Há cem anos, no então Império Turco Otomano, ocorreu um dos primeiros genocídios do século XX. Cerca de 1,5 milhão de armênios foram mortos, e milhões de outros foram expulsos, provocando uma enorme diáspora. Atualmente, armênios do mundo inteiro lutam para que a tragédia do seu povo seja reconhecida.
Os armênios foram os primeiros a
adotarem o cristianismo como religião oficial de Estado, em 301. A partir do
século V, o reino armênio foi controlado por diversos impérios, como o
Sassânida, o Mongol e o Otomano. Por séculos os armênios viveram no Império
Otomano ao lado de turcos, curdos e outros povos.
No final do século XIX, surgiu uma
coalizão no enfraquecido Império Otomano - os Jovens Turcos. Eram adeptos do
panturquismo (a união dos povos de origens turcas). Os armênios, povo não turco
e cristão, passou a ser um obstáculo ao panturquismo. Vítimas de uma dura
discriminação durante o reinado do sultão Abdul-Hamid II (1876-1908), os
armênios passaram a reivindicar maiores direitos. Em retaliação, cerca de 300
mil deles foram massacrados.
Em 1908, o fragilizado sultão foi
deposto pelos Jovens Turcos, que organizaram-se no Comitê União e Progresso.
Membros da cúpula deste órgão elaboraram um plano secreto que veio a ser
implementado no início da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). A princípio a
população armênia seria desarmada; seus líderes e intelectuais seriam
destituídos. Depois, os homens seriam exterminados e, os demais, enviados em
"caravanas para a morte".
No dia 24 de abril de 1915 (o
"Domingo Vermelho"), intelectuais e líderes da comunidade armênia
foram capturados, no contexto do plano acima mencionado. Era o início da série
de atrocidades que exterminaram 1,5 milhão de armênios. Portanto, por seu
simbolismo, 24 de abril tornou-se o Dia da Memória do Genocídio Armênio.
O governo turco, que nunca
reconheceu o genocídio, encobriu muitos dos vestígios da barbárie. Por exemplo,
como muitos armênios foram mortos por inanição, a culpa foi transferida para as
circunstâncias difíceis da guerra. Por isso, e também devido ao desinteresse
por uma minoria étnica como os armênios, a memória da mortandade sempre foi
fraca no Ocidente.
Por outro lado, os historiadores têm
o dever de lembrar aquilo que os outros esquecem, pois "aqueles que não
podem lembrar o passado, estão condenados a repeti-lo" (Santayana). A
"amnésia" ocidental sobre o genocídio armênio mostrou-se terrível em
1939, uma semana antes da invasão da Polônia pelos alemães. Nessa ocasião, Adolf Hitler ordenou aos seus oficiais "matar sem piedade ou misericórdia todos os homens, mulheres e crianças de raça ou idioma polonês." A fim de animá-los, concluiu com o questionamento: "Quem, hoje em dia, ainda fala sobre o extermínio dos armênios?"
O drama dos armênios é semelhante ao
de muitos outros cristãos que ainda hoje são perseguidos no Oriente. O
sofrimento de uns e outros é ignorado pelo mundo, e especialmente pela imprensa
ocidental.
Cumprindo o seu dever, o Vaticano
reconhece o genocídio armênio. E o papa Francisco, no último dia 12 de abril, foi
o primeiro líder católico a mencionar publicamente o termo
"genocídio" ao falar do triste acontecimento. Sem temer os protestos
da Turquia - diferentemente do governo dos Estados Unidos - o papa disse que
"esconder o mal é como permitir que uma ferida continue a sangrar sem se
tratar dela".
Para
que o "mal" não permaneça encoberto, a comunidade armênia no Brasil,
composta por cerca de 100 mil pessoas, promove diversos eventos desde o dia 13
de abril. Espera-se que o centenário do genocídio armênio leve o governo
brasileiro a finalmente reconhecer um dos genocídios mais desconhecidos do
século XX. E que tais crimes contra a humanidade nunca mais se repitam.