quarta-feira, 27 de outubro de 2021
Historia magistra vitae est. Cícero (106-43 a.C.)
Retrato anônino de Bohdan Chmielnicki, c. 1560.
Bohdan Chmielnicki (c. 1595-1657) desencadeou uma revolta contra o domínio dos magnatas poloneses, em 1648. Um de seus alvos também foram os judeus, intermediários entre a maioria dos camponeses ucranianos e os donos efetivos das terras que cultivavam. Centenas de comunidades judaicas foram arrasadas, e dezenas de milhares de judeus foram mortos ou vendidos como escravos. Até o século XX, esse foi o massacre mais sangrento da história dos judeus.
Assim, os judeus saíram da Polônia e voltaram para os diversos territórios alemães, Amsterdã ou para o Império Otomano. É importante como logo a comunidade judaica se recuperou desses horrores. Em meados do século XVIII, chegou a ter 750 mil pessoas, quase metade da população urbana do país.
Adaptado de BRENNER, Michael. Breve História dos Judeus. Tradução de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2013, p. 145.
Pela primeira vez em dois mil anos surgiu um Estado judeu, e isso logo a seguir à aniquilação do próprio centro da vida judaica na Europa. Israel foi - e ainda é - um país de imigrantes, especialmente judeus fugidos de perseguição. Em uma sociedade que reúne gente de países tão diferentes quanto o Iêmen e a Alemanha, o Marrocos e a Rússia, os conflitos culturais são inevitáveis. Além disso, as divergências políticas em Israel são agudas. Em 1977, o nacionalista Menachem Béguin desbancou os social-democratas que haviam governado sem interrupção desde a independência. Paradoxalmente, foi ele que fez as primeiras concessões territoriais, através do tratado de paz firmado com o Egito após o Acordo de Camp David, em 1978.
As tensões étnicas entre os judeus da Europa e do Oriente amainaram ao longo dos anos, ao contrário da cisão entre as correntes políticas. O ponto culminante dessa polarização foi o assassinato do premiê Yitzhak Rabin, em 4 de novembro de 1995. O ponto crucial das disputas eram as concessões feitas aos palestinos e a questão correlata da devolução dos territórios da Cisjordânia. Mais uma vez, foi um governante outrora linha-dura, o premiê Ariel Sharon, quem ordenou a evacuação dos judeus da Faixa de Gaza, enfrentando tenaz resistência de seus aliados políticos. A polarização política só aumentou desde então. Por um lado, há o movimento dos colonos, que ganhou força desde da Guerra dos Seis Dias; no outro extremo, há o movimento pela "Paz Agora", que alcançou o zênite durante os protestos contra a Guerra do Líbano, em 1982.
Outra área de conflito em Israel diz respeito à religião. Uma minoria religiosa militante, cada vez mais disseminada, confronta a maioria secular. Israel se conceitua como uma democracia secular à moda ocidental em que diversos aspectos da vida são controlados por autoridades religiosas. No geral, a situação religiosa é semelhante à política e à étnica: é difícil desconsiderar certa polarização religiosa que impactou os primeiros sessenta anos de Israel como Estado nacional moderno.
Em que pesem todos esses atritos, que vieram a se somar ao conflito entre Israel e os árabes, o país obteve conquistas consideráveis. Entre elas, a formação de uma sociedade diversificada mas consciente de sua unidade, a modernização de uma terra antes subdesenvolvida e a prosperidade econômica. No começo do século XXI, apenas 3% da população de Israel ainda trabalha na agricultura; o país tornou-se líder em tecnologia de ponta.
Na esfera cultural, Israel também brilha: modernizou a língua hebraica, S. Y. Agnon ganhou o Nobel de literatura (1966), e o país produziu escritores como Amós Oz, A. B. Yehoshua e David Grossman. Em suas obras, esses autores propõem reiteradamente a questão da identidade judaica do Estado de Israel.
Adaptado de BRENNER, Michael. Breve História dos Judeus. Tradução de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2013, p. 344-346.
"O ano de 1848 despertou efêmeras esperanças para os judeus das regiões orientais da Europa Central, pois a breve revolução fez pensar que até no Império Habsburgo a emancipação se concretizaria. Nas cidades, judeus da classe burguesa frequentemente se misturavam nas barricadas com boêmios, húngaros e poloneses revolucionários, lutando juntos contra o Estado imperial autoritário e a repressão das minorias nacionais."
BRENNER, Michael. Breve História dos Judeus. Tradução de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2013, p. 215-216.
"Evidência de um crime", cartum sobre o Complô dos Médicos Judeus, revista Krokodil, janeiro de 1953. A publicação ajudava a propagar o mito da conspiração sionista.
Apesar de suas limitações, o experimento judaico-soviético pode ser considerado bem-sucedido - desde que se tome a assimilação como critério de sucesso. Os judeus que queriam passar a fazer parte da sociedade soviética e estavam dispostos a abandonar o judaísmo puderam fazê-lo em um grau sem precedentes. Embora a maioria dos membros da elite não fosse de judeus e a maioria dos judeus não se identificasse com o novo regime, os judeus de fato constituíam proporção relativamente alta da elite dominante do novo Estado. Os motivos eram óbvios. Conquanto excluídos pelo antigo regime czarista, faziam parte das faixas mais instruídas da população. Na União Soviética, a instrução era o caminho da ascensão social. Nas regiões onde os judeus compunham porcentagem relativamente grande da população, boa parte dos profissionais liberais de formação universitária também eram judeus. Na Ucrânia, à véspera da Segunda Guerra Mundial, por exemplo, eram judeus 70 por cento dos dentistas, 59 por cento dos farmacêuticos, 45 por cento dos advogados e 33 por cento dos professores universitários. Quase todos os músicos e enxadristas internacionalmente famosos da União Soviética vinham de famílias judaicas. A maioria dos judeus comunistas fazia questão de deixar para trás o passado judaico, mas os circunstantes não perdiam uma única oportunidade de mencionar o assunto. Quando Stálin expurgou impiedosamente a elite dominante na segunda metade da década de 1930, somente uns poucos judeus conservaram posição política influente.
BRENNER, Michael. Breve História dos Judeus. Tradução de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2013, p. 277-279.
"As faculdades americanas restringiam a admissão de alunos judeus. Em seu jornal The Dearborn independent, o industrial Henry Ford publicou os famigerados Protocolos dos Sábios de Sião sob o título de The International Jew: The World's Foremost Problem (O Judeu Cosmopolita: O Maior Problema do Mundo). No sul, os judeus e os negros eram visados pela Ku Klux Klan, enquanto nos tumultos em 1935 no Harlem os negros culparam os judeus pela Depressão. E cerca de 30 milhões de pessoas ouviam as tiradas antissemitas do padre Charles Coughlin no rádio."
BRENNER, Michael. Breve História dos Judeus. Tradução de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2013, p. 274.
O primeiro kibutz surgiu em 1910 em Degania, às margens do Lago Genesaré (acima). Dez homens e duas mulheres buscavam ali realizar o sonho de criar um coletivo econômico que administrasse os próprios assuntos sem a supervisão ou mando de nenhuma outra administração. Os primeiros kibutzim eram unidades pequenas de 20 a 50 membros que pretendiam romper com o tradicional modo de vida burguês (propriedade privada, empresas capitalistas, estilo de vida urbano e família nuclear). Mas, na prática, existiam diferentes opiniões sobre o que significava essa alternativa socialista e agrária.
Como nem sempre era possível chegar a um denominador comum sobre questões que iam da criação das crianças à gestão da comunidade, logo apareceram vários estilos de kibutz. Essas instituições se multiplicaram depois da Primeira Guerra Mundial (1914-1918).
Adaptado de BRENNER, Michael. Breve História dos Judeus. Tradução de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2013, p. 246-247.