domingo, 10 de outubro de 2021
Pela primeira vez em dois mil anos surgiu um Estado judeu, e isso logo a seguir à aniquilação do próprio centro da vida judaica na Europa. Israel foi - e ainda é - um país de imigrantes, especialmente judeus fugidos de perseguição. Em uma sociedade que reúne gente de países tão diferentes quanto o Iêmen e a Alemanha, o Marrocos e a Rússia, os conflitos culturais são inevitáveis. Além disso, as divergências políticas em Israel são agudas. Em 1977, o nacionalista Menachem Béguin desbancou os social-democratas que haviam governado sem interrupção desde a independência. Paradoxalmente, foi ele que fez as primeiras concessões territoriais, através do tratado de paz firmado com o Egito após o Acordo de Camp David, em 1978.
As tensões étnicas entre os judeus da Europa e do Oriente amainaram ao longo dos anos, ao contrário da cisão entre as correntes políticas. O ponto culminante dessa polarização foi o assassinato do premiê Yitzhak Rabin, em 4 de novembro de 1995. O ponto crucial das disputas eram as concessões feitas aos palestinos e a questão correlata da devolução dos territórios da Cisjordânia. Mais uma vez, foi um governante outrora linha-dura, o premiê Ariel Sharon, quem ordenou a evacuação dos judeus da Faixa de Gaza, enfrentando tenaz resistência de seus aliados políticos. A polarização política só aumentou desde então. Por um lado, há o movimento dos colonos, que ganhou força desde da Guerra dos Seis Dias; no outro extremo, há o movimento pela "Paz Agora", que alcançou o zênite durante os protestos contra a Guerra do Líbano, em 1982.
Outra área de conflito em Israel diz respeito à religião. Uma minoria religiosa militante, cada vez mais disseminada, confronta a maioria secular. Israel se conceitua como uma democracia secular à moda ocidental em que diversos aspectos da vida são controlados por autoridades religiosas. No geral, a situação religiosa é semelhante à política e à étnica: é difícil desconsiderar certa polarização religiosa que impactou os primeiros sessenta anos de Israel como Estado nacional moderno.
Em que pesem todos esses atritos, que vieram a se somar ao conflito entre Israel e os árabes, o país obteve conquistas consideráveis. Entre elas, a formação de uma sociedade diversificada mas consciente de sua unidade, a modernização de uma terra antes subdesenvolvida e a prosperidade econômica. No começo do século XXI, apenas 3% da população de Israel ainda trabalha na agricultura; o país tornou-se líder em tecnologia de ponta.
Na esfera cultural, Israel também brilha: modernizou a língua hebraica, S. Y. Agnon ganhou o Nobel de literatura (1966), e o país produziu escritores como Amós Oz, A. B. Yehoshua e David Grossman. Em suas obras, esses autores propõem reiteradamente a questão da identidade judaica do Estado de Israel.
Adaptado de BRENNER, Michael. Breve História dos Judeus. Tradução de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2013, p. 344-346.
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