sexta-feira, 26 de abril de 2024
A visão do intelectual ungido não é somente uma visão de sociedade, mas também se comporta como uma visão autoelogiosa dos próprios intelectuais e uma mentalidade de que eles não estão dispostos a abrir mão. Um "respeito decente pelas opiniões da humanidade" - a frase usada na Declaração de Independência dos EUA - não tem hoje mais lugar num mundo pautado pela visão do intelectual ungido. Pelo contrário, pois desafiar o "clamor público" tornou-se um distintivo de honra e a certificação de ser um membro dos intelectuais ungidos. Os protestos das massas não são tratados como avisos importantes, mas como evidências redobradas da superioridade do insight do sujeito, que é compartilhado por outros "bem pensantes". Essa é uma das muitas maneiras pela qual a visão é blindada, afastando-a dos desafios que vêm das experiências mundanas de milhões de pessoas. Além disso, as impetuosas suposições e aspirações do intelectual ungido são amplamente consideradas, por eles e por outros, como o mais nobre idealismo, em vez de egocêntricas indulgências.
Que o mundo seja obrigado a apresentar um cenário que se encaixe em suas preconcepções - caso contrário existe algo de errado com o mundo - não constitui apenas um adorno da intelligentsia, mas se apresenta como base para o estabelecimento de cotas em corporações e em universidades, as quais procuram criar tais cenários, assim como interferir na condução das leis em casos em que se usa a muleta da discriminação sempre que a realidade não se encaixa com o cenário idealizado.
SOWELL, Thomas. Os Intelectuais e a Sociedade. Tradução de Maurício G. Righi. São Paulo: É Realizações, 2011, p. 456.
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