“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

127 Anos da Morte de D. Pedro II

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Há 127 anos, em 5 de dezembro de 1891, falecia na cidade de Paris, capital francesa, Sua Majestade Imperial, Dom Pedro II. Lá ele vivia em exílio, no Hotel Bedford, em virtude do banimento da família imperial imposto pelos perpretadores do golpe militar de 15 de novembro de 1889.

Acometido de grave doença pulmonar, Dom Pedro II morreu ainda jovem para os padrões atuais. Contava com 66 anos, mas parecia ser muito mais velho. Suas responsabilidades, as preocupações, a vida pública havia lhe imposto tal aparência. Carregava em sua face o Brasil.

Dias antes de seu falecimento, no exílio, Dom Pedro II realizou um longo passeio pelo rio Sena em carruagem aberta, apesar da temperatura extremamente baixa. Ao retornar para o Hotel Bedford, à noite, sentiu-se resfriado. A doença evoluiu nos dias seguintes até tornar-se uma pneumonia.

Em 4 de dezembro de 1891, o estado de saúde de Dom Pedro II rapidamente piorou. No dia seguinte, às 00h35, ele expirou em seu quarto. Acompanhavam o Imperador a sua filha Dona Isabel com o esposo Conde D’Eu e os filhos Príncipes: Dom Pedro de Alcântara, Dom Luiz, Dom Antonio e os filhos da Princesa Dona Leopoldina com o Duque de Saxe, Dom Pedro Augusto e Dom Augusto, além de inúmeros brasileiros que moravam em Paris ou que para lá foram seguindo-o no exílio.

Em um suspiro final, Pedro II disse a todos:

"Deus que me conceda esses últimos desejos - paz e prosperidade para o Brasil...", falecendo em seguida.

Dom Pedro II era admirado em todo o mundo, e somente nesse dia 5 de dezembro, chegaram ao Hotel Bedford mais de 2 mil telegramas prestando as condolências à Família Imperial.

Poucas horas após a morte de Pedro II, milhares de pessoas compareceram ao Hotel Bedford, dentre elas, o Presidente do Conselho, Freycinet e os ministros da Guerra e da Marinha da França.

Enquanto preparavam seu corpo, um pacote lacrado foi encontrado no quarto com uma mensagem escrita pelo próprio Imperador: O pacote que continha terra de todas as províncias brasileiras foi colocada dentro do caixão.

"É terra de meu país; desejo que seja posta no meu caixão, se eu morrer fora de minha pátria."

Dom Pedro II foi vestido em uniforme de Almirante da Armada do Brasil, com as medalhas e fitas das quais era dignitário, segurando o crucifixo em prata de lei, enviado pelo Papa Leão XIII. O corpo foi colocado em três caixões: o primeiro, de chumbo forrado em cetim embranquecido, com tampa em cristal; o segundo, de nobre carvalho envernizado; o terceiro, o de carvalho forrado de veludo negro.

O presidente francês Sardi Carnot, que estava em viagem pelo sul do país, enviou todos os membros da Casa Militar para prestarem homenagens ao falecido monarca.

A Princesa Isabel desejava realizar uma cerimônia discreta e íntima, mas acabou por aceitar o pedido do governo francês de realizar um funeral de Estado. Enquanto o governo francês queria prestar homenagens de chefe de estado ao Imperador, a representação diplomática do Brasil na França tentava convencer o governo francês a não fazer isso, pois poderia ferir suscetibilidades dos governantes republicanos brasileiros.

O governo brasileiro tentou em vão impedir que a França fizesse o funeral do Imperador como Chefe de Estado, rogando para que a bandeira Imperial não fosse hasteada e que os símbolos antigos não fossem respeitados. De nada adiantou - o governo francês prestou honras grandiosas a Dom Pedro II e à Família Imperial.

Embora republicano, o governo francês tinha a maior consideração pelo Imperador do Brasil porque ele fora o primeiro Chefe de Estado a prestigiar a França, visitando-a oficialmente após a derrota para a Prússia em 1870. Para evitar incidentes políticos, o governo decidiu que o enterro seria oficialmente realizado pelo fato do Imperador ser grã-cruz da Legião de Honra, mas com as pompas devidas a um monarca. Como última homenagem formal, o governo francês do Presidente Sadi Carnot, resolveu mesmo oferecer a Dom Pedro II um funeral de Chefe de Estado.

A reação da imprensa no exterior foi simpática ao monarca:

O jornal New York Times elogiou Pedro II, considerando-o: "O mais ilustrado monarca do século" e afirmando que “tornou o Brasil tão livre quanto uma monarquia pode ser”.

The Herald escreveu: “Numa outra era, e em circunstâncias mais felizes, ele seria idolatrado e honrado por seus súditos e teria passado a história como 'Dom Pedro II, o Bom'".

The Tribune afirmou que seu "reinado foi sereno, pacífico e próspero".

The Times publicou um longo artigo:
“Até novembro de 1889, acreditava-se que o falecido Imperador e sua consorte fossem unanimemente adorados no Brasil, devido a seus dotes intelectuais e morais e seu interesse afetuoso pelo bem-estar dos súditos [...]
Quando no Rio de Janeiro ele era constantemente visto em público; e duas vezes por semana recebia seus súditos, bem como viajantes estrangeiros, cativando a todos com sua cortesia”.

O Weekly Register, por sua vez:
“Ele mais parecia um poeta ou um sábio do que um imperador, mas se lhe tivesse sido dada a oportunidade de concretizar seus vários projetos,
sem dúvida teria feito do Brasil um dos países mais ricos do Novo Mundo”.

O periódico francês Le Jour afirmou que “ele foi efetivamente o primeiro soberano que, após nossos desastres de 1871, ousou nos visitar. Nossa derrota não o afastou de nós. A França lhe saberá ser agradecida”.

O The Globe asseverou que ele “era culto, ele era patriota; era gentil e indulgente; tinha todas as virtudes privadas, bem como as públicas, e morreu no exílio”.

Em 6 de dezembro de 1891, na capital francesa, milhares de personalidades compareceram a cerimônia realizada na Igreja de la Madeleine. Os membros do governo republicano brasileiro, "temerosos da grande repercussão que tivera a morte do Imperador", negaram qualquer manifestação oficial.

No Brasil, Rio de Janeiro, após ter sido noticiada a morte do Imperador, os jornais da Rua do Ouvidor e as casas comerciais haviam hasteado a bandeira a meio pau, o que provocou conflitos com a polícia e o novo governo republicano instituído, que queria obrigar a retirada das bandeiras daquela posição.

Contudo, o povo brasileiro não ficou indiferente ao falecimento de seu ex-monarca - a "repercussão no Brasil foi também imensa", apesar dos esforços do governo para abafar. Houve manifestações de pesar em todo o Brasil; comércio fechado, bandeiras a meio pau, toques de finados, tarjas pretas nas roupas, ofícios religiosos. Foram realizadas "missas solenes por todo o país, seguidas de pronunciamentos fúnebres em que se enalteciam Dom Pedro II e o regime monárquico".

O povo manifestou-se solidário com as homenagens ao Imperador Dom Pedro II.

Em 7 de dezembro de 1891, de acordo com o dr. João Mendes de Almeida, em artigo escrito:

“A notícia do passamento de S. M. o Imperador Dom Pedro II vem pôr à prova os sentimentos da nação brasileira com a dinastia Imperial. A consternação tem sido geral”.

“A República se calou diante da força e do impacto das manifestações”.

Na noite de 8 de dezembro de 1891, em Paris, os caixões contendo o corpo de Dom Pedro II saíram do Hotel Bedford com destino a Igreja da Madeleine. Oito militares franceses transportaram os caixões, cobertos pela bandeira imperial, sendo assistidos por mais de cinco mil pessoas.

A carruagem utilizada fora à mesma dos enterros do Cardeal Morlot, do Duque de Morny e de Adolphe Thiers.

Os Presentes ao Funeral

Em 9 de dezembro de 1891, França, Paris, muito cedo, ocorreu o féretro, apesar da chuva incessante e do vento frio, verdadeira multidão começou a ocupar a Praça da Madaleine, milhares de personalidades da época compareceram a cerimônia.

Além da Família Imperial Brasileira, estavam presentes:
Don Amadeo, ex-rei da Espanha,
Don Francis II, ex-rei das Duas Sicílias,
Dona Isabel II, ex-rainha da Espanha,
Luís Philippe, Conde de Paris, e diversos outros membros da realeza européia.

Também estavam presentes o General Joseph Brugère, representando o Presidente francês Sadi Carnot, os presidentes do Senado e da Câmara, assim como senadores, deputados, diplomatas e outros representantes do governo francês.

Quase todos os membros da Academia Francesa, do Instituto de França, da Academia de Ciências Morais e da Academia de Inscrições e Belas-Artes também participaram.
Entre os presentes, estavam:
Eça de Queiroz, Alexandre Dumas, fils, Gabriel Auguste Daubrée, Jules Arsène Arnaud Claretie, Marcellin Berthelot, Jean Louis Armand de Quatrefages de Bréau, Edmond Jurien de la Gravière, Julius Oppert, Camille Doucet e outros.

Representantes de outros governos, tanto do continente americano, quanto europeu se fizeram presentes, além de países longínquos como: Turquia, China, Japão e Pérsia, com a exceção do Brasil.

Os correspondentes dos jornais Daily Telegraph e do Daily Mail escreveram que havia tanta gente nos funerais de D. Pedro II quanto nos de Victor Hugo.

Só se notou a ausência de um representante do governo brasileiro.

Apesar da chuva e temperatura extremamente baixa, cerca de 300 mil pessoas assistiram ao evento pelas ruas de Paris. A formação militar francesa, composta por 80 mil homens, todos em uniforme de gala, prestou honras ao Imperador. Os cavalos, os tambores das bandas de música e as bandeiras traziam ornamentos negros de luto. Os caixões foram levados em cortejo até a estação de trem, de onde partiria para Portugal.
 .
As Mensagens

Duas carruagens levavam quase 200 coroas de flores. Nelas, estavam escritas mensagens homenageando o Imperador, tais como:

"A D. Pedro, Vitória R. I.",

“Dos Voluntários da Pátria ao grande Imperador
por quem se bateram Caxias, Osório, Andrade Neves e tantos outros heróis.”,

“Um grupo de brasileiros estudantes em Paris.”,

“Tempos felizes em que o pensamento, a palavra e a pena eram livres,
que o Brasil libertava povos oprimidos...”
Barão de Ladário, Marquês de Tamandaré, , Rodolfo Dantas, Joaquim Nabuco e Taunay

“Ao grande brasileiro benemérito da Pátria e da Humanidade. Ubique Patria Memor.”
Barão do Rio Branco

“Os Rio-Grandenses ao rei liberal e patriota.”

"Um negro brasileiro em nome de sua raça."

O caixão foi levado em cortejo até a estação de trem de Paris, de onde partiu para Portugal. O governo republicano do Brasil não esteve representado, mas vários republicanos golpistas ou não, estavam presentes.

Portugal - Lisboa

A viagem prosseguiu até a Igreja de São Vicente de Fora, próximo a Lisboa, onde o corpo de Pedro II foi depositado no Panteão dos Braganças, entre os de sua madrasta D. Amélia e de sua esposa, a Imperatriz D. Theresa Cristina.

Em todos os locais que os caixões passaram, tanto na França, quanto como na Espanha, e por último, em Portugal, foram realizadas homenagens.

Como sempre, com a exceção do Governo brasileiro republicano golpista. No Brasil, a polícia foi enviada para impedir manifestações públicas de pesar, “provocando sérios incidentes [...] enquanto o povo se solidarizava com os manifestantes”.

No mesmo dia no Rio de Janeiro, uma reunião popular com o objetivo de homenagear o falecido imperador foi realizada, tendo sido organizada pelo Marquês de Tamandaré, Visconde de Ouro Preto, Visconde de Sinimbu, Barão de Ladário, Carlos de Laet, Alfredo d'Escragnolle Taunay, Rodolfo Dantas, Afonso Celso e Joaquim Nabuco.

Até mesmo os antigos adversários políticos de Pedro II elogiaram o monarca deposto, mesmo que “criticando sua política, ressaltavam sempre seu patriotismo, honestidade, desinteresse, espírito de justiça, dedicação ao trabalho, tolerância, simplicidade”.

Quintino Bocaiúva, um dos principais líderes republicanos, falou:
“O mundo inteiro, pode-se dizer, tem prestado todas quantas homenagens tinha direito o Sr. Dom Pedro de Alcântara, conquistadas por suas virtudes de grande cidadão”.

Alguns “membros de clubes republicanos protestaram contra o que chamaram de exagerado sentimentalismo das homenagens", vendo nelas manobras monarquistas. Foram vozes isoladas.

Os brasileiros se mantiveram apegados a figura do imperador popular a quem consideravam um herói e continuaram a vê-lo como o Pai do Povo personificado. Esta visão era ainda mais forte entre os brasileiros negros ou de ascendência negra, que acreditavam que a monarquia representava a libertação.

O fenômeno de apoio contínuo ao monarca deposto é largamente devido a uma noção generalizada de que ele foi "um governante sábio, benevolente, austero e honesto"

Esta visão positiva de Pedro II, e nostalgia por seu reinado, apenas cresceu a medida que a nação rapidamente caiu sob o efeito de uma série de crises políticas e econômicas que os brasileiros acreditavam terem ocorridas devido a deposição do Imperador. Ele nunca cessou de ser considerado um herói popular, mas gradualmente voltaria a ser um herói oficial.

Surpreendentemente, fortes sentimentos de culpa se manifestaram dentre os republicanos, que se tornaram cada vez mais evidentes com a morte do Imperador no exílio. Eles elogiavam Pedro II, que era visto como um modelo de ideais republicanos, e a era imperial, que acreditavam que deveria servir de exemplo a ser seguido pela jovem república.

No Brasil, as notícias da morte do Imperador "causaram um sentimento genuíno de remorso entre aqueles que, apesar de não possuírem simpatia pela restauração, reconheciam tanto os méritos quanto as realizações de seu falecido governante."

Fontes:

Barman, Roderick J. (1999). Citizen Emperor: Pedro II and the Making of Brazil, 1825–1891 (Stanford: Stanford University Press);

Calmon, Pedro (1975). História de D. Pedro II (Rio de Janeiro: J. Olympio);

Martins, Luis (2008). O patriarca e o bacharel 2ª ed. (São Paulo: Alameda);

Schwarcz, Lilia Moritz (1998). As Barbas do Imperador – D. Pedro II, um monarca nos trópicos 2ª ed. (São Paulo: Companhia das Letras)."

Texto adaptado de Diário Imperial.

#15Fatos Paradoxos do Cristianinsmo

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

1. O verdadeiro problema com este nosso mundo não é que se trata de um mundo sem razão, nem tampouco de um mundo razoável. O tipo mais comum de problema é que se trata de um mundo quase razoável, mas não totalmente. Nesse sentido, o cristianismo não simplesmente deduz verdades lógicas mas, quando se torna ilógico, ele encontra, por assim dizer, uma verdade ilógica.   

2. A fé tem aquela elaboração de doutrinas e detalhes que tanto incomoda os que admiram o cristianismo sem acreditar nele. Quando alguém abraça uma crença, essa pessoa se sente orgulhosa de sua complexidade, e se a crença está certa, é um elogio dizer que ela é elaborada. Por outro lado, é muito difícil defender alguma coisa da qual se está inteiramente convencido. Assim, toda convicção completa está envolvida numa espécie de desamparo.  

3. Eu era um pagão aos 12 anos, e um "perfeito agnóstico" aos 16; tudo o que ouvira da teologia cristã me alienara dela. Ele li a literatura científica e cética do meu tempo, até que Huxley, Herbert Spencer e Bradlaugh me trouxeram de volta à teologia ortodoxa. O racionalista me fez pensar se a razão tinha alguma utilidade qualquer, e Spencer me fez duvidar se a evolução havia sequer acontecido.  

4. O cristianismo era atacado de todos os lados e por todas as razões contraditórias. Mal um racionalista acabara de demonstrar que ele pendia demais para o oriente, outro demonstrava com igual clareza que ele pendia demais para o ocidente. Os críticos do cristianismo provavam que ele era puramente pessimista para, logo a seguir, provar que ele era, em grande parte, otimista demais. Na história descobri que o cristianismo não fez parte da Idade das Trevas; muito pelo contrário, ela foi, através desse período, a única trilha que não era de trevas. Foi uma ponte luminosa ligando duas luminosas civilizações.   

5. O cristianismo não poderia ser, ao mesmo tempo, a máscara negra de um mundo branco, e também a máscara branca de um mundo negro. Swinburne, que acusava o cristianismo de pessimismo, era ele também um pessimista. Argumenta-se que o cristianismo comporta algo de tímido, monástico e pouco viril, especialmente em sua atitude perante a resistência e a luta. No entanto, o cristianismo também é acusado por sua luta excessiva - ele parecia ser a matriz de todas as guerras. Ele inundara o mundo de sangue.  

6. A única objeção real à religião cristã é simplesmente que ela é uma única religião. Os credos, diziam, dividem os homens; mas pelo menos as doutrinas morais os uniram. Eu acreditava nessa doutrina da fraternidade de todos os homens na posse do senso moral, mas as mesmas pessoas que diziam que a humanidade era uma única igreja ao longo dos séculos diziam que a moralidade havia mudado totalmente, e o que era certo numa época era errado em outra.    

7. Alguns céticos escreveram que o grande crime do cristianismo fora seu ataque contra a família; ele arrastara as mulheres à solidão e contemplação do do claustro, longe de sua casa e filhos. Mas, em contrapartida, outros céticos disseram que o grande crime do cristianismo foi obrigar-nos ao casamento e à constituição de uma família. Segundo os anticristãos, certos versículos das epístolas ou o ritual do casamento mostravam desprezo pela mulher. Porém, os próprios anticristãos nutriam desprezo pelo intelecto feminino - sua grande chacota contra a igreja na Europa era que "apenas mulheres" a frequentavam.    
8. Ou então, o cristianismo era censurado por seus hábitos despojados e estéreis; no momento seguinte, todavia, era censurado por sua pompa e ritualismo. Era ofendido por ser simples demais e por ser demasiado colorido. De novo, o cristianismo sempre fora acusado de limitar em excesso a sexualidade, até que o malthusiano Bradlaugh descobriu que ele a limitava pouco demais. 

9. Num mesmo panfleto, um ateu censurava a fé por sua desunião ("um pensa uma coisa, outro pensa outra") e a censurava por sua união ("é a diferença de opinião que preserva o mundo de sucumbir"). Um livre-pensador, numa mesma conversa, censurava o cristianismo por desprezar os judeus, e depois ele mesmo o desprezava por ser judaico. 

10. Era certamente estranho que o mundo moderno acusasse o cristianismo simultaneamente de austeridade física e de pompa artística. Mas era também estranho, muito estranho, que o próprio mundo moderno combinasse um luxo físico extremo com uma extrema ausência de pompa artística. 

11. O paganismo declarou que a virtude estava em equilíbrio; o cristianismo declarou que ela estava em conflito: a colisão das duas paixões aparentemente opostas. O cristianismo é um paradoxo sobre-humano segundo o qual duas paixões opostas podem arder lado a lado. 

12. No cristianismo, num sentido, o homem devia sentir-se mais orgulhoso do que nunca; noutro ele devia ser mais humilde do que jamais fora. Na medida em que sou homem, sou a principal das criaturas. Na medida em que sou um homem, sou o principal dos pecadores. Assim, o cristianismo alimentou um pensamento de dignidade do homem; no entanto, ele podia ao mesmo tempo alimentar um pensamento sobre a abjeta pequenez do homem que só poderia ser expresso em jejuns e fanática submissão. 

13. A caridade é um paradoxo, como a modéstia e a coragem. Mal formulada, a caridade com certeza significa duas coisas: perdoar atos imperdoáveis ou amar pessoas não amáveis. Ao entrar em cena na Antiguidade pagã, o cristianismo separou o crime do criminoso. Ao criminoso devíamos perdoar até setenta vezes sete. Ao crime não devíamos perdoar de modo algum.   

14. A doutrina cristã detectou as esquisitices da vida. Ela não apenas descobriu a lei, mas previu as exceções. Subestimam o cristianismo os que dizem que ele descobriu a misericórdia; qualquer um poderia descobri-la. De fato todos o fizeram. Mas descobrir o plano para ser misericordioso e também severo - isso foi antecipar uma estranha necessidade da natureza humana.

15. Sob o cristianismo, a Europa (embora continue sendo uma unidade) dividiu-se em diversas nações. O instinto do império pagão teria dito: "Vocês serão todos cidadãos romanos e se tornarão semelhantes entre si." Mas o instinto da Europa cristã diz: "Que os alemães permaneçam lentos e reverentes, para que os franceses possam, em maior segurança, ser rápidos e experimentais. Vamos criar um equilíbrio a partir desses excessos."  

Bibliografia consultada: CHESTERTON, Gilbert Keith. Ortodoxia. Tradução de Almiro Pisetta. 2. ed. São Paulo: Mundo Cristão, 2017, p. 106-130 e 190.

Pôncio Pilatos

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Sobre esse anel e sua inscrição, leia mais em: Estadão.

No final dos anos 1960, foi encontrado um anel na Cisjordânia. No entanto, só recentemente, com avançada técnica fotográfica, a inscrição em grego do objeto foi decifrada - "de Pilates". 

Pilatos foi prefeito, ou governador, da província da Judeia, nas margens orientais do Império Romano, entre 26 e 36 d.C. Filo diz que ele tinha "natureza inflexível e era rude, devido à teimosia" (Embassy to Gaius, p. 38). Certa vez, fez seus soldados marcharem em Jerusalém portando estandartes com imagens do imperador. Em outra ocasião, colocou escudos dourados com o nome do imperador gravado no antigo palácio de Herodes. Nos dois casos, foi forçado a retirar os objetos ofensivos por causa da obstinada resistência dos judeus. 

Mais sério que esses incidentes foi quando Pilatos usou dinheiro do tesouro do templo para custear a construção de um aqueduto destinado a levar água para Jerusalém. A oposição pelo uso indevido dos recursos sagrados foi confrontada com crueldade impiedosa. Em meio a uma situação tão tensa, não é de se admirar que Pilatos tenha consentido, após relutar, em condenar a Jesus de Nazaré à morte por crucifixão. À época ele estava no meio do seu mandato. 

A ruína política do governador ocorreu quando ele ordenou o massacre de muitos samaritanos que seguiam um impostor que havia prometido arranjar vasos sagrados de ouro para eles, supostamente escondidos por Moisés no monte Gerizim. Os samaritanos reclamaram da violência desnecessária ao superior Vitélio, embaixador da Síria, que ordenou Pilatos ir a Roma justificar sua conduta diante do imperador. Além disso, Vitélio nomeou um novo procurador para a Judeia. 

Antes de Pilatos chegar a Roma, o imperador Tibério morreu. Exilado em Viena, Ródano, no sul da Gália, o antigo governador da Judeia cometeu suicídio. 

Além do anel mencionado no início deste artigo, em 1961 foi descoberto um outro achado arqueológico envolvendo Pilatos. Trata-se de um fragmento de uma inscrição em pedra num teatro romano em Cesareia que menciona, em latim, "Pôncio Pilatos, Prefeito da Judeia" como construtor de uma estrutura pública chamada Tiberium, em homenagem ao imperador Tibério. Essas descobertas têm grande valor, pois a veracidade dos evangelhos com relação às informações sobre Pilatos levantou frequentes questionamentos por parte dos críticos. 

Bibliografia consultada: Dicionário Bíblico Adventista do Sétimo Dia. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2016, p. 1071-1072.    

A Civilização Cretense

domingo, 2 de dezembro de 2018

O afresco das "damas de azul" do Palácio de Cnossos ilustra três mulheres de elevado status social com rica indumentária. 

Desde o alvorecer do terceiro milênio a.C. até cerca de 1400 a.C., - um período tão longo como o que vai da queda de Roma até nossos dias - Creta, especialmente a cidade de Cnossos, foi o centro de uma brilhante civilização, que progressivamente se espalhou em todas as direções, no mundo Egeu. Uma vez que Cnossos não era fortificada, os seus governantes devem ter dominado os mares, segundo uma informação do historiador grego Tucídides. 

Como se nota no afresco acima, as mulheres ocupavam um lugar de destaque na sociedade minoica (como a sociedade cretense também é chamada). Acredita-se que essa sociedade pode ter sido matriarcal, o que supõem-se a partir de diversas pinturas e outros achados arqueológicos. O culto à Deusa-Mãe, a principal divindade dessa civilização, ajuda a confirmar essa hipótese. 

Bibliografia consultada: KITTO, H. D. F. Os Gregos. Tradução e prefácio de José Manuel Coutinho e Castro; revisão de Maria Helena da Rocha Pereira. 3ª ed. Coimbra: Armênio Amado, 1990, p. 29.

Pérola de Thoreau (II)

sábado, 1 de dezembro de 2018

«A Civilização do Ocidente Medieval»

sexta-feira, 30 de novembro de 2018

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Ditadores: Mussolini e Hitler

quinta-feira, 29 de novembro de 2018