sexta-feira, 16 de setembro de 2011
O Humanismo é um conceito interessante. Como se sabe, o conceito tem a ver com a centralidade do ser humano em uma escala de prioridades de estudos. Na Grécia antiga, Aristóteles (384-322 a.C.) apontava a razão para essa valorização do homem: "numerosas são as maravilhas do mundo, mas de todas a mais surpreendente é o homem" (Eth. Nic., 1141a, 20). Embora a Constituição da República Federativa do Brasil (art. 214, V) determine claramente que um dos objetivos do plano nacional de educação é a promoção humanística do país, pouco realmente se sabe sobre o humanismo. Como afirmou Eric J. Hobsbawm, a função do historiador é lembrar o que os demais esquecem; assim, volto-me às fontes para lembrar o sentido original de um conceito tão caro à civilização.
Dois nomes se destacam: Cipião (184 – 129 a.C.), o general que derrotou Aníbal, e Cícero (106 – 43 a.C.), o orador imortal. Para eles o Humanismo era um valor, qualidades que distinguiam os homens dos animais e de outros homens. Eram estas: piedade, respeito por valores morais, erudição e urbanidade. Estudos recentes acrescentam ainda à humanitas virtudes como bondade, perdão e clemência, por um lado e, por outro, cortesia, um vivo interesse nas literatura, arte e cultura, bem como um fino senso de humor e estilo (1). Decerto cada uma dessas qualidades mereceriam uma postagem em separado. Além disso, nunca é demais recordar que a moralidade e a ética cristã eram desconhecidas, não obstante os paralelos que podemos encontrar entre o estoicismo e a religião que professamos.
Entre muitos dos intelectuais da atualidade faltam os valores humanísticos. A pedagogia reinante na escola e na universidade tem grande parcela de culpa (2). Todos os quatro pilares estão em xeque. A erudição, por exemplo, é cada vez menos exigida. A servidão imposta pela nossa sociedade pitagórica, pela pedagogia hodierna, pela televisão (3), entre outros, atualiza a reflexão de Cássio Longino (c. 220 – 273 d.C.):
Da mesma maneira como certas crianças permanecem sempre anãs em virtude de seus membros tenros haverem permanecido em confinamento por demais estreito, assim também nossas frágeis mentes, restringidas pelos prejuízos e hábitos de uma justa servidão, se tornam incapazes de expandir-se ou atingir aquela grandeza bem proporcionada que admiramos nos antigos, os quais, vivendo sob um governo popular, escreviam com a mesma liberdade com que agiam.
Sem olvidar que não um, ou dois, mas que o conjunto dos valores são absolutamente essenciais a um intelectual, passo à urbanidade. Urbanidade deriva de urbano; logo, é relativo à ciuitas (essa noção se afirmava por oposição aos rustici, os camponeses, vistos então rudes e incivilizados). Urbanidade é uma qualidade daquele que é cortês, civilizado. Estritamente necessária, mas frequentemente negligenciada. Qual será a razão?
Embora as humanidades sejam disciplinas não-práticas que tratam do passado e que têm por meta a sabedoria, o Humanismo perpassa todas as áreas do conhecimento. Ou pelo menos deveria. Que a nossa meta seja a de alcançá-lo. E que comecemos por cultivar a urbanidade. Sempre. Sem ela será difícil convencer temos os outros valores, ou seja, que somos seres humanos no sentido mais elevado da palavra.
MARROU, H. - I. História da Educação na Antiguidade. São Paulo: Herder, 1969, p. 350.
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(1) JANSSEN, L. F. ´Superstitio´ and the persecution of the Christians. BRILL, p. 146.
(2) Sobre isso, leia uma entrevista.
(3) Cf. SARTORI, G. Homo videns - televisão e pós-pensamento. Lisboa: Terramar, 2000.
Imagem: Francesco Petrarca (1304-1374), humanista italiano.
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(1) JANSSEN, L. F. ´Superstitio´ and the persecution of the Christians. BRILL, p. 146.
(2) Sobre isso, leia uma entrevista.
(3) Cf. SARTORI, G. Homo videns - televisão e pós-pensamento. Lisboa: Terramar, 2000.
Imagem: Francesco Petrarca (1304-1374), humanista italiano.
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