“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

«Os Intelectuais» e Paul Johnson

quinta-feira, 21 de março de 2013

Como já se tornou tradição neste blogue, de tempos em tempos surge uma sugestão de leitura. Desta vez, além da indicação, deixarei também a dica de uma entrevista com o autor, neste caso, o historiador e pintor (quem diria!), Paul Johnson (1928- ). Católico e admirador dos Estados Unidos, Johnson é para muitos "a voz da direita" nos meios acadêmicos internacionais. Conhecido por suas opiniões polêmicas e críticas contundentes à esquerda, em 1998 ele concedeu uma imperdível entrevista à revista Veja

Dez anos antes da entrevista, um dos livros de Johnson, Intellectuals, era publicado. Foi traduzido para o português. Incrível que um livro anti-esquerdista tenha sido traduzido em nosso país. Mais incrível ainda é que o tenha sido apenas dois anos após a sua publicação (isto é, em 1990), e neste caso temos que parabenizar a Imago pelo feito. Pode ter sido uma grande jogada comercial, visto que uma das maiores aberrações de todos os tempos, a URSS, dava os seus últimos suspiros. De qualquer forma, a editora merece o nosso apreço. 

Relativamente à entrevista, selecionei duas perguntas, a título de comentário ao próprio livro em questão, e ao tema que o cerca. Abaixo segue o link, e eu recomendo a leitura da entrevista na íntegra. 

Veja — Em seu livro Intelectuais, o senhor diz que a grande questão da vida intelectual é a posição a assumir diante do problema da violência. A violência pode ser moral e intelectualmente justificável?
Johnson — Nada me intriga mais na vida de pensadores renomados do que perceber que um grande número deles apoiou ou apóia a violência em diversas situações. O francês Jean-Paul Sartre, por exemplo, sustentava que a violência era tolerável em certas circunstâncias. Algumas das pessoas que seguiram seus ensinamentos foram ainda piores — basta pensar no grupo de intelectuais responsável pelos massacres no Cambodja, todos discípulos de Sartre. Outro caso de filósofo que deplorou a violência em certos casos e a endossou em outros foi o inglês Bertrand Russell. Ele chegou a sugerir um ataque nuclear preventivo contra a União Soviética. De minha parte, sigo um dos mandamentos da Igreja — "Não matarás". Acho, porém, que exista algo como a "guerra justa", no sentido descrito por Santo Tomás de Aquino no século XIII. Já a violência do dia-a-dia, que afeta a vida dos cidadãos, é um problema espinhoso. Combatê-la com a violência do Estado seria legítimo? A tão discutida pena de morte, por exemplo, é um desses casos sobre os quais pessoas de boa vontade, inteligência e educação terão sempre opiniões conflitantes.

(...)

Veja — O senhor não acredita que haja um legado de esquerda a ser explorado no presente?
Johnson — Não. Karl Marx foi um embusteiro intelectual que distorcia fatos. É claro que seu sistema não funcionou quando aplicado à União Soviética: estava todo embasado em falsidades. Seu único legado foi conduzir um país rico como a Rússia à pobreza. Não há qualidades redentoras, nenhuma que seja, no marxismo. Aqueles que discordarem de mim, que mostrem provas. Mostrem-me um regime que tenha empregado princípios marxistas e tenha melhorado a vida de seus cidadãos. Não há. Todos que enveredaram por esse caminho na Europa, América Latina, Ásia ou África falharam. Também não faço nenhuma distinção entre nazismo, comunismo e fascismo. Foram todos movimentos totalitários e radicais pertencentes à esquerda. Marx, afinal de contas, derivou todas as suas teorias de Hegel, assim como os nazistas. Todos os sistemas totalitários do século XX foram de esquerda: apenas na superfície pareceram pertencer à direita. Todos os sistemas radicais do século XX foram ruins segundo os mais retos padrões morais. São sistemas que não podem ser melhorados ou civilizados. É impossível um comunismo com face humana. O regime chinês não se humanizará. Com sorte, desaparecerá no tempo, e é tudo que podemos dizer. 

In: VEJA

(Leia outra entrevista de Johnson AQUI. Leia também um artigo sobre como Marx e o marxismo promovem a violência e o racismo; clique AQUI). 

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