“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

«Um Pequeno Passo para a Liberdade»

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

CAMPOS, Miguel Furian et. al. (Org.). Um pequeno passo para a liberdade. Instituto de Formação de Líderes de São Paulo, Instituto de Formação de Líderes de Belo Horizonte, Instituto Líderes do Amanhã de Vitória, 2016.
> A porção central da obra acima são as Seis Lições de Mises; baixe-as aqui.

Eis um presente de amigo que "devorei" nesta semana. Esse livro deveria ser distribuído aos quatro ventos, principalmente no Brasil, onde o indivíduo é cada vez mais esmagado por um Estado paquidérmico. 

A primeira parte da obra - de longe a melhor - é composta por seis palestras proferidas pelo economista Ludwig von Mises (1881-1973) em Buenos Aires, em fins de 1958. Judeu de nacionalidade austríaca, Mises foi um dos maiores economistas liberais do século XX, e é um dos mais estudados atualmente no Brasil.

Na primeira lição ("Capitalismo"), Mises explica que o livre mercado no mundo moderno, ao contrário de todos os sistemas socioeconômicos que lhe precederam, criou condições reais para a ascensão social e reduziu significativamente as desigualdades sociais. Assim, "hoje, nos países capitalistas, há relativamente pouca diferença entre a vida básica das chamadas classes mais altas e a das mais baixas: ambas têm alimento, roupas e abrigo. Mas no século XVIII, e nos que o precederam, o que distinguia o homem da classe média do da classe baixa era o fato de o primeiro ter sapatos, e o segundo, não." (p. 25)

Na segunda lição ("Socialismo"), eu destaco as seguintes citações:

"Quando há economia de mercado, o indivíduo tem a liberdade de escolher qualquer carreira que deseje seguir, de escolher o seu próprio modo de inserção na sociedade. Num sistema socialista é diferente: as carreiras são decididas por decreto do governo. Este pode ordenar às pessoas que não lhe sejam gratas, àquelas cuja presença não lhe pareça conveniente em determinadas regiões, que se mudem para outras regiões e outros lugares." (p. 32)

"A visão do governo como uma autoridade paternal, um guardião de todos, é própria dos adeptos do socialismo." (p. 34)

"Liberdade significa realmente liberdade para errar." (p. 35)

"Submetido ao planejamento governamental, o homem é como um soldado num exército. Não cabe a um soldado o direito de escolher sua guarnição, a praça onde servirá. Cabe-lhe cumprir ordens. E o sistema socialista - como o sabiam e admitiam Karl Marx, Lenin e todos os líderes socialistas - consiste na transposição do regime militar a todo o sistema de produção." (p. 39)

Na terceira lição ("Intervencionismo"), destaco a lúcida análise acerca da economia alemã sob o regime nazista: "Antes da ascensão de Hitler ao poder, o controle de preços foi mais uma vez introduzido na Alemanha pelo chanceler Brüning, pelas razões de costume. O próprio Hitler aplicou-o antes mesmo do início da guerra: na Alemanha de Hitler não havia empresa privada ou iniciativa privada. Na Alemanha de Hitler havia um sistema de socialismo que só diferia do sistema russo na medida em que ainda eram mantidos a terminologia e os rótulos do sistema de livre economia. Ainda existiam 'empresas privadas', como eram denominadas. Mas o proprietário já não era um empresário; chamavam-no 'gerente' ou 'chefe' de negócios (Betriebsführer)." (p. 54)

A grande lição do intervencionismo é que "sempre que se interfere no mercado, o governo é progressivamente impelido ao socialismo." (p. 57)

Na quarta lição ("Inflação"), Mises lembra que "não é o modo como o dinheiro é gasto, é antes o modo como é obtido pelo governo que dá lugar a essa consequência que chamamos de inflação (...)." (p. 63)

Na quinta lição ("Investimento Externo"), destaca: "Devemos nos dar conta de que em todos os países, exceto a Inglaterra, o investimento de capital de origem estrangeira sempre desempenhou um papel da mais considerável importância para a implantação de indústria modernas." (p. 81)

"Encerrado o glorioso período do século XIX, em que o capital estrangeiro fomentou, em todas as partes do mundo, a implantação de modernos métodos de transporte, de fabricação, de mineração e de tecnologia agrícola, inaugurou-se uma nova era [a partir da Primeira Guerra Mundial] em que governos e partidos políticos passaram a ter o investidor estrangeiro na conta de um explorador a ser escorraçado do país." (pp. 82-83)

Para que os países em desenvolvimento se tornem tão prósperos quanto os Estados Unidos, precisam acumular capital interno (que decorre do aumento da produtividade) e viabilizar o ingresso do capital estrangeiro. (p. 85 e p. 87)

Na sexta e última lição, ("Política e Ideias"), há uma citação atualíssima:

"O estadista do século XVIII pensava que os legisladores tinham ideias específicas sobre o bem comum. Hoje, entretanto, constatamos, na realidade da vida política - praticamente na de todos os países do mundo onde não vigora simplesmente uma ditadura comunista - uma situação em que já não existem partidos políticos autênticos, no velho sentido clássico, mas tão-somente grupos de pressão." (p. 93)

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