“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

A Ambição de Gandhi

sábado, 30 de dezembro de 2017

Um líder nacional pode ter uma incrível carreira política, e uma vida sexual apelativa em termos midiáticos, mas nenhum outro aspecto que interesse a um biógrafo ou jornalista. Quanto a Gandhi, contudo, foram fascinantes toda a sua vida política, bem como sua vida espiritual, familiar e sexual. Seu relacionamento com o alimento, por si só, já preencheria um livro inteiro. 

Sobram informações sobre esse importante personagem da história da Índia e do mundo no século XX. O próprio testemunho de Gandhi ainda sobrevive, em livros, artigos, cartas e discursos que totalizam cem volumes. Dentre essas fontes, duas autobiografias, uma sobre sua vida na década de 1920 e a outra sobre suas experiências na África do Sul, constituem um guia para a relativa importância que ele dava aos vários aspectos de sua vida. 

Como todo biógrafo bem sabe, é preciso ter extremo cuidado com informações autobiográficas, principalmente se elas partem de um político. A seletividade da verdade nas obras de Gandhi, no entanto, não se relacionam tanto ao que ele queria ocultar, mas pelo que ele queria explorar em seu passado: o seu desenvolvimento moral. 

Alguns episódios de sua vida precisam ser desmistificados. Por exemplo, em 1930, Gandhi desafiou o Império Britânico ao pegar sal ainda não legalizado (sem o recolhimento dos impostos devidos). Ora, é verdade que ele foi para Dandi, mas as imagens e os relatos dessa sua visita foram fruto da montagem de um cenário muito bem pensado e cuidadosamente preparado. Nesse mesmo ano, ele concordou em desistir da desobediência civil desde que fosse aceita uma série de exigências que incluísse o direito dos indianos ao porte de armas. Para todos aqueles que consideram Gandhi uma espécie de "santo", tais revelações são, no mínimo, perturbadoras.

 Mas não para por aí. Gandhi era um homem intensamente ambicioso, ainda que essa ambição não fosse uma ambição comum. A ambição não era conseguir justiça para os trabalhadores ou a independência da Índia - essas eram exigências transitórias. Seu objetivo era nada mais do que a perfeição espiritual. 

Bibliografia consultada: ADAMS, Jad. Gandhi: a Ambição Nua. Tradução de Fulvio Lubisco. São Paulo: Geração Editorial, 2012, p. 11-19.

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