“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

A Fundação do Império Egípcio

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Tradicionalmente, o Egito vivera como um compartimento estanque, limitando-se a ocupar a Núbia (atual Sudão), o que era bastante natural. No entanto, a invasão dos hicsos mostrou aos habitantes do Nilo que eles não estavam livres de ameaças externas. Isso os impeliu à desforra, inspirando-lhes o desejo de garantir segurança mediante a conquista de faixas protetoras. 

Ao perceberem a riqueza das regiões siro-fenícias, os reis egípcios chegaram a um imperialismo, fonte de glória e de lucros. Por volta de 1850 a.C., a capital dos hicsos foi tomada por Amósis, fundador da XVIII dinastia e do Novo Império. Fortemente organizado pelos grandes reis Tutmés I e II (1530-1504 a.C.), que inauguraram as campanhas longínquas e chegaram ao Eufrates, o Egito dispunha de um exército poderoso, nacional e mercenário, e sobretudo de carros de combate, montados por arqueiros, cuja carga era frequentemente decisiva. Bem depressa, também, manteve-se uma ativa diplomacia junto dos pequenos reis locais e dos Estados longínquos, cujos documentos, redigidos em cuneiforme babilônico, linguagem universal do Oriente naquela época, foram encontrados em diversos pontos, especialmente em Tel-el-Amarna e em Bogas-Keui, capital hitita. 

Pode-se considerar que a fundação do Império Egípcio se deu entre 1530 e 1370 a.C. Tutmés III, de 1484 a 1450 a.C., foi o grande fundador do império (ver o mapa acima). Empenhou-se em 17 campanhas, umas direcionadas à conquista, outras para fiscalizar, administrar ou reprimir revoltas. A rota de terra foi pontilhada com as suas vitórias, em Meguido, Kadesh, Orontes e em Carquemis, no Eufrates. Teve o mérito de combinar as operações terrestres com os seus desembarques nos portos fenícios, possibilitando um ataque à Síria pela retaguarda; chegou a impor um tributo a Chipre e aos cilícios. Os seus principais adversários, subsidiados pelos mitanianos, foram os principais de Kadesh, que formaram incessantes coalizões de pequenos reis e das cidades-fortes. Compreenda a relação de Tutmés III com o líder hebreu Moisés

Na Ásia Menor, mais especificamente no atual Curdistão, dominava então o Mitani. Esse reino hurrita constituiu mais uma civilização do que um Estado estável. A ausência de limites naturais e de organização forte e, principalmente, a vizinhança dos hititas no noroeste e dos assírios no sudeste, contribuíram para que a civilização dos mitanianos não durasse muito.

Cavaleiros mitanianos.

Os mitanianos aceitaram então que o Egito avançasse a sua fronteira até o Orontes, por um tratado que inaugurou nova política de equilíbrio e reconheceu a mais forte influência do Egito na Ásia. Assim, instalaram-se guarnições nas cidades ou nos fortins, agentes do faraó - egípcios ou aliados - fiscalizando a administração e recolhendo tributos, favorecendo da melhor forma as relações comerciais, sobretudo com a Síria e com os portos fenícios. O Egito abriu-se às influências orientais, o rei aceitou princesas no seu harém, desposou mitanianas, cujo influxo foi particularmente nítido no tempo de Amenófis III (1405-1370 a.C.) e Amenófis IV (1370-1352 a.C.). 

Bibliografia consultada: PETIT, Paul. O Mundo Antigo. Tradução de Pedro Moacyr Campos. Lisboa: Ática Lisboa, 1976, p. 28-29.

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