“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

A Sociedade de Ordens - II

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

A imagem da sociedade feudal. 
A primeira parte deste conteúdo está disponível aqui. 

Adalberon de Laon, por volta de 1030, distinguiu três componentes na sociedade cristã: oratores, bellatores e laboratores, ou seja, os que rezam, os que combatem e os que trabalham. Isso corresponde ao panorama social após o ano mil. 

Em primeiro lugar, afiguram os clérigos e, especialmente, os monges (o bispo Adalberon reconheceu, com azedume, o seu poder). Sua função era a oração, o que os colocava em ligação com o mundo divino e lhes conferia um enorme poder espiritual na Terra. A seguir, vinham os guerreiros e, nomeadamente, o novo estrato social dos que combatiam a cavalo e que acabou por se transformar numa nova nobreza, a cavalaria, que protegia pelas armas as outras duas classes. Finalmente, o mundo do trabalho, representado essencialmente pelos camponeses, cujas condições jurídico-sociais tendiam a unificar-se e que, com o produto do seu trabalho, possibilitavam a existência das outras duas ordens. 

Sociedade aparentemente harmônica, na qual os trabalhadores usufruíam de uma promoção, se não social, pelo menos ideológica. De fato, o esquema ideológico não tardou a juntar-se à realidade social, reforçando-a: a aplicação do esquema bíblico dos três filhos de Noé ao esquema trifuncional, permitiu subordinar a terceira ordem às outras duas; tal como Cam, o mais irreverente nas suas relações com o pai, se tornou escravo dos dois irmãos, Sem e Jafé. O esquema, aparentemente igualitário, reforça a desigualdade social existente entre as três ordens.   

Adaptado de: LE GOFF, Jacques. O Homem Medieval. In: LE GOFF, Jacques (dir.). O Homem Medieval. Tradução de Maria Vilar de Figueiredo. Lisboa: Presença, 1989, p. 15.

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