domingo, 28 de março de 2021
Stalin sempre teve claro em sua mente que a União Soviética não constituía em sentido algum uma nação. Era, como a monarquia tzarista, um Estado com muitas nacionalidades dentro de suas fronteiras. Como Estado nacional múltiplo, Stalin pôde afirmar que a União Soviética - "esta admirável organização para a colaboração dos povos" - era verdadeiramente internacionalista, "o protótipo vivo da futura união de povos". O nacionalismo acabaria se tornando menos importante quando as nacionalidades se fundissem numa única comunidade sem classes. Isso representaria o que passou a ser conhecido como a construção do "socialismo num só país". A ideia, articulada primeiro por Lênin em 1915, foi muitas vezes mal interpretada como uma expressão de socialismo "nacional" - um deslocamento das aspirações internacionalistas do verdadeiro marxismo inspirado pelo Stalin mais "nacionalista". Mas a ambição não era nacionalista em nenhum sentido reconhecível. Quando Stalin, em 1924, que "podemos construir o socialismo... por nossos próprios esforços", expressava uma ambição social, não nacional. O malogro da revolução fora das fronteiras soviéticas obrigou a maioria dos bolcheviques a aceitar a visão sensata de que o socialismo teria de ser construído sem a ajuda de outros proletariados, mas a existência de tantos grupos nacionais dentro da União Soviética permitiu ao regime manter a aparência de que continuava sendo internacionalista tanto na substância quanto na intenção. Stalin nunca deu as costas à ideia de que a União Soviética devia continuar a combater o capitalismo e incentivar a revolução no estrangeiro; "o socialismo num só país" deu à União Soviética um lugar especial na liderança da luta mundial, mas não foi uma declaração de independência nacional. Se Stalin, na década de 1930, esperou que os cidadãos soviéticos expressassem um patriotismo soviético, foi por amor à única pátria socialista, não por soberba nacional. Em 1930, ele disse ao 16º Congresso do Partido que não se tratava de forçar as distintas unidades nacionais da União Soviética a tornar-se uma "grande nação russa comum". Embora, a partir de meados da década de 1930, a ditadura começasse a identificar-se mais com um passado especificamente russo, ele sempre manteve a distinção entre a União Soviética como um Estado socialista de muitas nacionalidades e a nação como expressão de uma cultura particular e sem igual.
OVERY, Richard. Os Ditadores - a Rússia de Stalin e a Alemanha de Hitler. Tradução de Marcos Santarrita. Rio de Janeiro: José Olympio, 2009, p. 561-562.
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