domingo, 8 de agosto de 2021
Sob uma ordem política anárquica, o desejo de autodeterminação coletiva é manifestado por meio da independência de cada clã e tribo em face de todas as demais. Em tais circunstâncias, a lealdade do indivíduo para com o clã ou tribo exige que ele vá para a guerra por causa dessas coletividades, seja em busca de seus interesses ou para obter justiça tendem a ser inalcançáveis sem a constante ameaça de violência, e todas as vidas estão sujeitas a isso.
Quando a lealdade do indivíduo é revertida para o Estado nacional, o foco de seu desejo de liberdade coletiva e autodeterminação se desloca para um nível acima. Isso não significa que ele renuncie à lealdade para com seu clã ou tribo. Mas onde a unificação das tribos sob um Estado nacional for bem-sucedida, o anseio pela liberdade e autodeterminação do clã ou tribo será contido por um intenso desejo de alcançar a integridade interna da nação. O desejo pela integridade interna da nação acaba com a guerra enquanto instrumento para perseguir os interesses do clã ou tribo, de modo que ela é retirada desse âmbito e passa a defender exclusivamente a ordem doméstica e a paz em ampla esfera nacional. Da mesma forma, a administração da justiça, que era assunto a ser resolvido, quando necessário, pela violência entre clãs e tribos, é realocada dentro de um sistema de leis, policiamento e tribunais, que respondem ao governo nacional, portanto são livres das influências de uma determinada família, clã ou afiliação tribal.
Desta forma, o Estado nacional suprime a guerra como meio de resolver conflitos domésticos, banindo-a para a periferia da experiência humana. Certamente, os servidores do Estado no governo e soldados continuam a dedicar-se às lutas entre os Estados nacionais e suas guerras. Mas agora a violência colide com a vida do indivíduo muito mais raramente, e quase sempre a uma longa distância da sua casa, onde sua família pode viver tranquilamente, mesmo quando a guerra ocorre em outro lugar. A criação dessa esfera de paz, na qual a família e a vida econômica pode se desenvolver amplamente protegida da violência, é a primeira inovação do Estado nacional, sobre a qual muitas outras inovações são construídas.
HAZONY, Yoram. A Virtude do Nacionalismo. Tradução de Evandro Fernandes de Pontes. Campinas, SP: Vide Editorial, 2019, p. 119-120.
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