“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

A Democracia dos Consumidores

segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

 

Muitas vezes uma intervenção estatal gera benefícios imediatos, ao passo que seus resultados maléficos surgirão apenas com o tempo. Uma visão míope poderá concluir, então, que a intervenção era desejada, sem se dar conta de que as consequências nefastas no futuro tiveram causa atrás, na própria intervenção.

O funcionamento de uma economia de mercado exige complexos cálculos racionais, sempre a partir da especulação, pois o ser humano não tem conhecimento prévio do futuro. Até mesmo a formação de estoques é uma especulação calcada em dados disponíveis no mercado hoje, com o empresário à espera da melhora dos preços para poder vender seus produtos depois. Em uma economia socialista, com planejamento estatal e sem os meios de produção privados, tal cálculo é inviável, ou praticamente impossível. Na União Soviética, o Gosplan tentava administrar os preços de milhares de produtos, e os resultados foram desastrosos.

No capitalismo, a economia funciona livremente, e são os consumidores, e não os empresários, que determinam o que deve ser produzido. Por isso, a economia de mercado é chamada de democracia dos consumidores. Estes determinam, por meio de uma votação diária, quais são as suas preferências. E aquele que atende melhor os consumidores será o empresário bem-sucedido. Atender às demandas da população é a função das empresas. A competição livre entre elas é a garantia do melhor atendimento. Não há como escapar das inexoráveis leis do mercado. A alternativa é depositar em uma pequena cúpula de políticos poderosos as escolhas, jogando todo o resto da população na escravidão.

Por isso, a "função social" de uma empresa é justamente buscar o lucro. Se o indivíduo busca satisfazer seu próprio interesse num contexto de respeito à propriedade privada e às trocas efetuadas no mercado, estará fazendo o que a sociedade espera que ele faça. Produzir o melhor produto possível ao menor preço viável é a "função social" das empresas.

Quando o governo adota medidas restritivas, acaba favorecendo os produtores, enquanto uma política que não interfere no funcionamento do mercado favorece os consumidores. Da mesma forma, medidas de controle de preços provocam uma redução de produção porque impossibilitam o produtor marginal de produzir com lucro. Com o objetivo de limitar a alta de preços, o governo consegue apenas esvaziar as prateleiras, como ocorre em todas as nações socialistas. O salário mínimo é outra intervenção similar, que gera o aumento de desemprego. Taxar mais pesadamente as rendas maiores é muito comum, mas isso apenas impede a formação de capital. Um sistema tributário que servisse aos verdadeiros interesse dos assalariados deveria taxar apenas a parte da renda consumida, e não a que estivesse sendo poupada ou investida.

A economia de mercado recompensa aquele capaz de servir bem aos consumidores, é verdade. Mas isso não causa nenhum dano a estes; só os beneficia. Apenas uma minoria faz uso da liberdade de criação artística e científica, mas todos ganham com ela. Quem tem luz elétrica, carro, computador, etc., sabe bem disso. Infelizmente, como alerta Mises, "o fanatismo impede que os ensinamentos da teoria econômica sejam escutados." E assim ficamos sem todas as vantagens potenciais da mão invisível do mercado, prejudicada pelo peso da mão visível do Estado.

Adaptado de CONSTANTINO, Rodrigo. Pensadores da Liberdade. São Paulo: Faro Editorial, 2021, p. 119-121.

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