terça-feira, 6 de junho de 2023
A Igreja na Idade Média tolerava muitas extravagâncias religiosas desde que não conduzissem a novidade de espécie revolucionária em pontos de moral ou de doutrina. Enquanto se confinasse dentro dos limites das fantasias hiperbólicas e dos êxtases a emoção superabundante não constituía perigo. Por isso muitos santos eram notórios pela sua reverência fanática pela virgindade, que tomava a formava de verdadeiro horror por tudo quanto se relacionasse com o sexo. Santa Colette é um exemplo. Ela apresenta todas as particularidades daquilo a que William James chamou "a condição teopática". A sua sensibilidade era imensa. Não podia suportar nem a luz nem o calor do fogo, apenas a luz das velas. Tinha uma aversão exagerada pelas moscas, lesmas e formigas, pelo lixo e maus cheiros. A sua repugnância pelas funções sexuais inspirava-lhe grande desgosto pelos santos que se haviam casado e levou-a a só admitir virgens na sua congregação. A Igreja louvou sempre estas tendências, tendo-as por edificantes e meritórias.
HUIZINGA, Johan. O Declínio da Idade Média. 2ª edição. Tradução de Augusto Abelaira. Lousã, Coimbra: Ulisseia, s/d, p. 202.
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