“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

Onésimo, escravo nos tempos de Roma

segunda-feira, 23 de outubro de 2023

 

Pros Philêmona ("Para Filemon") foi escrita pelo apóstolo Paulo (v. 1), e quanto a isso praticamente não há discussão entre os eruditos. A epístola é uma carta pessoal de Paulo, escrita enquanto estava preso em Roma. O destinatário é um cristão chamado Filemon, habitante de Colossos. A mensagem foi enviada pelo amigo de Paulo, Tíquico, e foi motivada por uma crise na vida de um dos conversos de Paulo. Onésimo, escravo de Filemon, havia fugido, levando consigo um pouco de dinheiro ou bens de seu senhor (v. 18). Posteriormente, ele foi para Roma, como faziam muitos escravos, com a expectativa de se ocultar nas vastas multidões daquela cidade. Enquanto estava lá, Onésimo conheceu Paulo. É possível que, enquanto viveu em Roma, ele absorveu o suficiente da doutrina cristã para ter a consciência perturbada. Em busca de orientação espiritual, ele buscou a Paulo; é interessante que, por sua vez, Paulo já havia sido um convidado na casa de Filemon. 

Qualquer que seja a razão, Onésimo encontrou pronta recepção e foi inspirado a servir dedicadamente ao idoso apóstolo. Sua consciência e sua vontade o prepararam para seguir o caminho do dever a fim de se redimir dos erros do passado, voltando mais uma vez a seu antigo senhor. Onésimo não esperou para ver que resposta seu senhor daria à carta de Paulo. Em vez disso, ele partiu com Tíquico, mensageiro de Paulo. Não sabemos qual recepção ele teve, mas é possível supor que Filemon tenha sido tocado pelas ternas palavras do apóstolo Paulo. Onésimo deveria ser recebido como um "irmão amado" (v. 16).

A epístola a Filemon precisa ser compreendida no contexto da escravidão, tal como existia no Império Romano. Os escravos eram parte reconhecida da estrutura social e eram considerados membros da família de seu senhor. Entre 146 a.C. e 235 d.C., diz-se que a proporção de escravos para pessoas livres teria sido de três por um. Plínio diz que, no tempo de Augusto, um liberto chamado Cecílio mantinha 4.116 escravos. Saiba mais no post A Escravidão em Roma.

Com uma massa escravizada tão numerosa, a elite dominante se via no dever de promulgar leis severas para evitar fuga ou revolta. Muitas vezes, a punição pela fuga era a morte, por vezes, por crucificação, ou por ser atirado às lampreias vorazes em um aquário. Por outro lado, alguns proprietários de escravos eram mais benevolentes do que outros, e a lei previa a alforria ou liberação de várias maneiras. Todavia, a menos que a alforria fosse decretada por lei, e não por um particular, o liberto era obrigado a permanecer servindo ao senhor e a executar as obrigações impostas a ele no momento da alforria. Na sociedade romana, era possível aos libertos ascender de forma constante a posições de influência e, até mesmo, de autoridade cívica.  

Bibliografia consultada:

Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia. Tatuí, São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 2011, vol. 7, p. 401-402.

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