“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

Medicina árabe x Medicina Ocidental

terça-feira, 11 de novembro de 2025

Os franj, no século XII, estão muito atrasados em relação aos árabes em todos os campos científicos e técnicos. Mas é principalmente na medicina que a distância entre Oriente desenvolvido e Ocidente primitivo é maior. Osama observa a diferença:

Um dia, ele conta, o governador franco de Muneitra, no Monte Líbano, escreveu a meu tio Sultan, emir de Xaizar, para pedir que lhe enviasse um médico para tratar de alguns casos urgentes. Meu tio escolheu um médico cristão de nossa terra chamado Thabet. Este se ausentou por poucos dias e voltou. Estávamos muito curiosos para saber como ele conseguira tão rapidamente a cura dos doentes e o enchemos de perguntas. Thabet respondeu: "Trouxeram até mim um cavaleiro que tinha um abcesso na perna e uma mulher que sofria de tísica. Coloquei um emplastro no cavaleiro; o tumor se abriu e melhorou. À mulher, prescrevi uma dieta para refrescar seu temperamento." Mas um médico franco chegara e dissera: "Esse homem não sabe tratá-los!" E, dirigindo-se ao cavaleiro, perguntou-lhe: "O que prefere, viver com uma só perna ou morrer com as duas?". O paciente respondeu que preferia viver com uma só perna, e o médico ordenou: "Tragam-me um cavaleiro forte com um machado bem afiado." Logo vi chegar o cavaleiro e o machado. O médico franco colocou a perna num cepo de madeira, dizendo ao recém-chegado: "Dê um bom golpe de machado, para cortá-la de uma só vez!". Diante de meus olhos, o homem atingiu a perna com um primeiro golpe, depois, como ela continuava presa, atingiu-a de novo. A medula da perna esguichou e o ferido morreu na hora. A mulher, por sua vez, foi examinada pelo médico, que disse: "Ela tem na cabeça um demônio, que está apaixonado por ela. Cortem seus cabelos!". Os cabelos foram cortados. A mulher voltou a comer sua comida com alho e mostarda, o que piorou a tísica. "É porque o diabo entrou em sua cabeça", afirmou o médico. E, pegando uma navalha, fez uma incisão em forma de cruz até aparecer o osso da cabeça e o esfregou com sal. A mulher morreu na hora. Perguntei, então: "Vocês não precisam mais de mim?". Eles me disseram que não e eu voltei, depois de aprender sobre a medicina dos franj várias coisas que ignorava.

MAALOUF, Amin. As Cruzadas vistas pelos árabes. Tradução de Julia da Rosa Simões. São Paulo: Vestígio, 2024, p. 149-150.

0 comentários: