“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

Socialismo (Nada) Científico

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

"(...) Marx não estava disposto a investigar, ele próprio, a situação da indústria nem a aprender nada com trabalhadores que a tenham vivido. Por que deveria? Em todos os pontos essenciais, usando a dialética hegeliana, chegara a suas conclusões - em fins da década de 1840 - sobre o destino do homem. O que restava era encontrar as informações para fundamentar essas conclusões, e isso podia ser tirado de reportagens de jornais, de livros azuis do governo ou de dados coletados por antigos autores; todo esse material era encontrado em bibliotecas. Por que ir mais longe? O problema, do modo como apareceria para Marx, era encontrar o tipo certo de informação: as informações adequadas. (...) 

Nesse sentido, então, os 'dados' não eram centrais ao trabalho de Marx; eles estavam subordinados, reforçando conclusões que já tinham sido alcançadas independentemente deles. O Capital, o monumento em torno do qual girava sua vida de erudito, deveria ser visto, portanto, não como uma investigação científica sobre a natureza do sistema econômico que pretendeu descrever, mas como um exercício de filosofia moralista, um tratado comparável aos de Carlyle ou Ruskin. Trata-se de um sermão gigantesco e no mais das vezes incoerente, um ataque ao sistema industrial e ao princípio de propriedade feito por um homem que tinha criado um ódio intenso, embora essencialmente irracional, em relação a ambos. Curiosamente, essa obra não tem um argumento central que atue como um princípio organizador."

JOHNSON, Paul. Os Intelectuais. Tradução de André Luiz Barros da Silva. Rio de Janeiro: Imago Ed., 1990, pp. 74-75.

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