domingo, 25 de abril de 2021
Estátua de Artur no penhasco de Tintagel, na costa atlântica da Cornualha. Inglaterra, Reino Unido.
Nennius, autor de Historia Brittonum, escrita por volta do ano 800, foi o primeiro historiador a falar de Artur. Nessa crônica, Artur aparece como dux bellorum, um chefe guerreiro que teria vencido doze batalhas contra os saxões, sendo a mais famosa a vitória do Monte Badon. Mais tarde, ainda no século VI, os saxões dominaram efetivamente a Bretanha.
Outro texto latino, o Annales Cambriae, datado de 950, confirma as informações de Nennius e apresenta as datas da principal batalha de Artur e de sua morte. Os locais das principais batalhas, ali descritas, no entanto, são imaginários. Os Anais da Câmbria afirmam que no ano de 537 houve a batalha de Camlan, na qual Artur morreu.
De acordo com Nennius, os bretões teriam sido dominados devido ao paganismo, o que levou Deus a puni-los. A culpa recairia principalmente sobre o soberano mítico do período, Vortigen (monarca entre 425 e 450). Ele teria feito um acordo com os saxões para que defendessem a ilha dos outros invasores, mas eles, ao contrário, traíram o soberano e dominaram o território. Em contraponto, São Germano (378-448) tenta levar o monarca ao bom caminho, sem sucesso.
Quanto a Artur, ele é um guerreiro citado em dois capítulos da narrativa. O capítulo 56 relata as doze batalhas vencidas por Artur, sendo a mais importante a do Monte Badon. Se ele consegue sair vencedor, segundo Nennius, é porque é um guerreiro cristão, fiel a Deus e à Virgem Maria, ao contrário do rei pagão Vortigen. Está sempre claro, no relato de Nennius, que Artur não era um rei, mas um chefe guerreiro que se destacou nos combates. No capítulo 73, é descrito o túmulo de Anir, filho de Artur e morto pelo próprio pai. Esse capítulo está na parte referente às mirabilia da Bretanha e também se relaciona a fontes célticas, pois menciona a marca do cão de Artur durante a caçada ao porcus Troynt.
A obra de Nennius teve importância fundamental no desenvolvimento do mito arturiano. Foi ele que, retomando fontes célticas, apresentou ao Ocidente a figura de Artur. No século XII, o herói seria utilizado não mais como um guerreiro cristão, mas como um rei invencível, pois tal conceito servia diretamente ao fortalecimento da dinastia anglo-normanda, que passara a governar a Inglaterra em 1066 e cujos reis eram vassalos do rei da França. Os normandos estavam interessados na legitimação do seu poder também com relação às ideias, daí o interesse pelas histórias sobre Artur.
Adaptado de PAES FILHO, Orlando & ZIERER, Adriana. Artur. São Paulo: Planeta, 2004, p. 13-16.
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