“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

Os 70 anos da Bomba de Hiroshima

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

           

               "Que alívio a bomba ter funcionado tão bem!" Assim declarou Jacob Beser, tripulante do Enola Gay, bombardeiro B-29 que largou a bomba atômica sobre a cidade japonesa de Hiroshima, na manhã de 6 de agosto de 1945.
            O "bom" funcionamento da arma nuclear provocou a morte instantânea de 85 mil pessoas, e deixou 55 mil feridos. Devido aos efeitos da radiação, o número de vítimas aumentou nas décadas seguintes. Em 1986 foram contabilizadas quase 139 mil.
            Dois dias após o ataque a Hiroshima, outra bomba atômica foi lançada pelos norte-americanos, desta vez sobre a cidade de Nagasaki. De imediato, mais de 40 mil pessoas morreram. O governo dos Estados Unidos alegou que tais bombardeamentos visavam uma rendição imediata do Japão, poupando vidas de ambos os lados de um conflito que se mostrava sem sentido.
            Se a justificativa americana é discutível, o fato é que os japoneses capitularam. Na mensagem de rendição transmitida aos seus súditos, no dia 15 de agosto, o imperador Hirohito declarou que o inimigo "utiliza agora uma nova bomba, extremamente cruel, cujo poder destruidor é incalculável." 
            Ele estava certo. Com o tempo, a escala e a natureza da destruição de vidas humanas em Hiroshima e Nagasaki alteraram completamente o modo tradicional como se via a guerra, a diplomacia e a relação entre os países.
             Além do que já foi mencionado, os bombardeamentos atômicos prenunciaram o início de outro conflito - a Guerra Fria. Esta disputa diplomática e ideológica entre os Estados Unidos e a União Soviética logo seria marcada pela corrida nuclear.
            Com a derrota na Segunda Guerra, o Japão, vítima dos únicos ataques nucleares da História, abandonou o militarismo e tornou-se solidamente pacifista. Graças aos Estados Unidos, que passou de inimigo a principal aliado, os japoneses reconstruíram a sua economia, que tornou-se uma das mais prósperas do mundo.
             Apesar do pacifismo então adotado, durante a Guerra Fria os japoneses desenvolveram forças básicas de defesa. Sua proximidade com três países comunistas - a então União Soviética, a China e a Coreia do Norte - tornava essa precaução plenamente compreensível.
          Em 1991, a União Soviética se desintegrou e a Guerra Fria chegou ao fim. Consequentemente, o cenário geopolítico foi significativamente alterado. Apesar disso, as tensões estão longe de diminuírem no Extremo Oriente.
            Nos últimos anos, um crescimento da presença militar da China tem preocupado os países vizinhos. O Japão, até hoje o principal aliado dos Estados Unidos na região, tem modernizado as suas Forças Armadas em resposta à escala e ao alcance do crescimento do poderio bélico chinês.
            O exército japonês, composto por cerca de 150 mil homens, é maior do que o britânico. A marinha do país é impressionante. Além disso, em virtude do suposto potencial do arsenal de mísseis da Coreia do Norte, tem crescido o interesse do Japão em defesa antimísseis.
            Seguindo a tendência de reforço da importância militar do país, recentemente a Câmara Baixa do Parlamento nipônico aprovou duas leis. Elas poderão permitir que militares japoneses participem de campanhas no exterior, uma medida inédita desde o fim da Segunda Guerra Mundial.    
            Tal mudança na política externa do Japão ressuscita alguns "fantasmas" da História. Países que foram vítimas do seu imperialismo num passado recente - nomeadamente China e Coreia - suspeitam que a Terra do Sol Nascente ainda acalenta um militarismo que lhes deixou marcas profundas.
            A "rosa radioativa" de Hiroshima, segundo a expressão de Vinícius de Moraes, será hoje lembrada no mundo inteiro. Mais que mera lembrança, que os espinhos dessas últimas sete décadas forneçam um aprendizado para que os países encontrem uma conciliação genuína, a única via para um mundo verdadeiramente pacífico.

Publicado no jornal A Tribuna (06/08/2015)

1 comentários:

Unknown disse...

Muito bom, prof Rafael!! Gostaria de saber como e quando foi ressuscitado o exército japonês após a segunda guerra. Como foi o virtual governo marcial do MacArthur sobre Japão? Das poucas coisa que sei que 1)o Japão foi absolutamente fundamental pra que as forças americanas conseguissem manter a Coreia da Sul capitalista e que 2) o governo MacArthur deu um fim a um problema milenar no Japão: o envenenamento por baiacu. Não é piada.
ass: Klaus Provenzano