“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

#15Fatos Teatro Grego

domingo, 22 de julho de 2018

Teatro de Epidauro, Grécia, em 2004. Esse teatro foi um dos maiores de seu tipo e de seu tempo. Possuía uma acústica considerada perfeita para a época.

1. O teatro é uma das manifestações mais expressivas da civilização grega. Ele surgiu no fim do século VI a.C. ou início do século V a.C., em Atenas, no contexto dos festivais dionisíacos. Dioniso tornou-se, desde a época dos Pisistrátidas (séc. VI a.C.), uma das divindades cujo culto revestia-se de brilho particular.

2. Os festivais das Lenéias (final de janeiro) e das Grandes Dionisíacas (final de março) tinham como uma de suas atrações a apresentação de tragédias e comédias em concursos dramáticos presididos pelos arcontes. Tratava-se de uma grande cerimônia religiosa e cívica, ponto alto das festas em honra ao deus Dioniso.

3. Participavam das Grandes Dionisíacas não apenas os cidadãos, mas também metecos e estrangeiros, bem como representantes das cidades aliadas de Atenas, que iam nessa ocasião levar-lhe o tributo. Ao que tudo indica, as mulheres não eram excluídas do teatro, na medida em que se tratava de uma cerimônia religiosa da qual participavam por direito. Assim, é possível que acompanhassem seus maridos na audiência dos espetáculos.  

4. Na encosta sudeste da acrópole de Atenas estava o teatro de Dioniso. No século V a.C., em pleno apogeu do teatro ateniense, as arquibancadas eram de madeira; apenas no século IV a.C. seriam substituídas por pedra. O teatro comportava até 20 mil espectadores. Um nível abaixo das arquibancadas encontrava-se a orchestra, espaço circular de cerca de 18 metros de diâmetro, onde ficava o coro. Atrás, a skené, uma divisória de madeira vazada por três portas que formava todo o cenário, sendo precedida por uma plataforma, onde ficavam os atores.  

5. Os atores eram todos homens, mesmo nos papéis femininos, e usavam máscaras, geralmente feitas de tecido e encimadas por uma peruca. As máscaras rígidas, assim como os calçados altos (coturnos), parecem só ter surgido com o período helenístico. Os figurinos eram em cores vivas para que pudessem ser vistos de longe. 

6. Desde meados do século V a.C., três atores em cena representavam todos os papéis. Haviam também alguns figurantes mudos. O primeiro ator, o protagonista, desempenhava o papel principal e certos papéis secundários. A mudança de máscaras permitia aos espectadores reconhecer o personagem interpretado pelo ator. 

7. O coro, composto por cidadãos normais recrutados e treinados pelo corego, compreendia entre doze e quinze pessoas. Os coreutas eram também mascarados e carregavam o atributo simbólico do grupo que coletivamente representavam (bengala para os idosos, roupas escuras para as mulheres de luto, etc.). O coro eram acompanhado nas recitações cantadas por um flautista. 

8. O assunto das peças propriamente ditas variava conforme fossem tragédias ou comédias. As comédias recorriam muito à realidade presente da cidade, ainda que o enredo fosse puramente imaginário. Assim, Aristófanes punha em cena, sob disfarces grotescos, políticos, estrategos, filósofos contemporâneos e até mesmo deuses. Do mesmo modo, quando os atenienses não aguentavam mais a guerra, sugeriu a conclusão de uma paz unilateral por parte de seu herói ou a greve de sexo das mulheres de Atenas, estendendo assim à cidade um espelho em que ela se reconhecia. 

9. Os tragediógrafos, por outro lado, com poucas exceções (A tomada de Mileto, de Frínico; Os persas de Ésquilo) buscavam nos relatos míticos transmitidos pelos poetas épicos os temas de suas peças, situadas assim em um passado remoto, ainda que frequentemente as reflexões de um personagem remetessem a preocupações do momento. Isso é particularmente perceptível no teatro de Eurípedes, composto no tempo da Guerra do Peloponeso (431-404 a.C.). 

10. Representando para a cidade um meio de questionar a si própria, a tragédia era, para retomar uma fórmula de Vidal-Naquet, um espelho que a pólis oferecia de si mesma, mas "um espelho quebrado". O herói trágico era a vítima desse questionamento, que culminava no triunfo dos valores cívicos.

11. As peças, em geral as tragédias, eram construídas de acordo com um esquema invariável: um prólogo antes da entrada do coro, que expunha a situação, seguido pelo párodo, a primeira intervenção do coro, alternando-se em seguida as cenas faladas e cantadas até a cena final, ou êxodo.

12. O tema de uma peça em geral consistia num episódio particularmente significativo do mito em que se baseava, no caso das tragédias, que eram agrupadas em trilogias, ou seja, em grupos de três peças. Apenas uma dessas trilogias subsistiu na íntegra, a Oréstia, de Ésquilo, que evoca três momentos importantes do mito dos Átridas: o assassinato de Agamêmnon, o assassinato de Clitemnestra e Egisto e a fuga de Orestes perseguido pelas Erínias e absolvido do crime de matricídio de que era culpado pelo Areópago.

13. O século V a.C. foi a grande época do teatro grego, sintetizada pelos nomes de Ésquilo, Sófocles e Eurípedes na tragédia e Aristófanes na comédia. No século IV a.C., a produção dramática foi aparentemente menor, uma vez que são reencenadas as peças dos autores do século anterior. Praticamente nada subsistiu da tragédia, e apenas alguns fragmentos de autores da "comédia intermediária" restaram da obra dos cômicos. 

14. No fim do século IV a.C., o teatro de Menandro levou a comédia a passar por um novo renascimento. Ele conferiu aos "sentimentos", especialmente ao amor, uma importância nova. Ele elaborou uma tipologia que foi herdada pela comédia romana: o velho, o rapaz, a moçoila, a cortesã, o soldado, o parasita, etc.

15. Em relação à tragédia, o problema é mais complexo, pois Clitemnestra, Édipo e Medéia aparecem como personagens excepcionais. Mesmo assim, mais que o desenho dos personagens, é a organização da intriga que lhes confere tal "personalidade" excepcional.

Bibliografia consultada: MOSSÉ, Claude. Dicionário da Civilização Grega. Tradução de Carlos Ramalhete, com a colaboração de André Telles. Rio de Janeiro: Zahar Ed., 2004, p. 265-267 e p. 276.

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