“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

Relatório do doc. 'Uma Conversa sobre racismo'

quarta-feira, 29 de julho de 2015


Uma Conversa sobre Racismo é um documentário produzido por Craig Bodeker. Seu objetivo é provar que não há, de fato, uma conversa sobre racismo nos Estados Unidos. Ele acredita que o racismo se tornou uma ferramenta para atacar os americanos brancos.

Logo no início, Craig Bodeker diz que não consegue pensar em outra questão atual nos Estados Unidos que seja mais importante do que o racismo. Ele também diz que não há outro termo que seja mais artificial, manufaturado e manipulado que o termo “racismo”. Segundo Bodeker, os crentes do racismo sentem que o racismo está em sempre ao seu redor, em todo lugar, todo o tempo, mas mesmo assim eles têm dificuldade para lembrar-se de um exemplo da vida real ou até uma definição desse termo.

O termo racismo é usado frequentemente pela mídia e pelo governo estadunidense para descrever o que eles chamam de pior dos comportamentos humanos. “Mas quem seriam os oficialmente designados como praticantes do racismo? Pessoas como eu. Americanos brancos de ascendência europeia. O maior grupo racial nos EUA”, diz o cineasta Craig.

Craig Bodeker resolver desafiar um grupo de moradores do Colorado para falarem sobre o racismo. Para isso ele escreveu no Craigslist, uma rede de comunidades online que disponibiliza anúncios, um anúncio para interessados em participar de uma entrevista como título “Acabando com o racismo agora”. Algumas pessoas na rua também são convidadas para a entrevista.

Bodeker começa entrevistando as pessoas perguntando se elas vêem o racismo no seu dia a dia e todas respondem que sim. Negros, brancos, e muitas outras etnias, todos parecem ver esse racismo nos Estados Unidos.

Depois, Bodeker pede a seus entrevistados para definirem o racismo. Porém, poucos parecem ser capazes de formularem uma definição, apesar de verem o racismo todos os dias. Ele vê isso como uma desconexão, pois racismo é uma palavra tão comumente usada hoje e mesmo assim tão vaga e contraditória.

O Wikipédia, por exemplo, define o racismo desta forma: “Racismo: o termo geralmente descreve discriminação, violência e opressão de cunho racial. O termo também pode ter definições variadas e amplamente contestadas”.

Não satisfeito com as respostas da última pergunta, o entrevistador pede um exemplo de racismo vivenciado por eles. Ao serem questionadas, duas pessoas não conseguiram se lembrar de um exemplo e quatro automaticamente partiram para clichês. Mas algumas pessoas conseguiram, e o entrevistador selecionou as palavras-chaves de cada exemplo, que foram: encarar, falsas despedidas, opiniões raciais, ter precaução, notar uma raça diferente, relacionando, não rir, elogios, intolerância e ser excessivamente amigável

Apesar de todos esses exemplos de supostas atitudes racistas, segundo o documentário, nenhum deles é relevante. Algumas reflexões são feitas como: encarar alguém pode ser considerado perseguição? Ser excessivamente amistoso com alguém pode ser comparado com negá-lo um emprego?

A próxima indagação foi se negros eram melhores do que brancos no basquete. Ele pergunta para várias pessoas de diferentes origens, e todos concordam. Ele novamente vê isto como uma incoerência ou desconexão, porque não há problemas em dizer que uma raça é melhor em algo que a outra, desde que a primeira nunca seja a raça branca. E para provar essa desconexão ele parte para outra pergunta, se os brancos podem ser melhores em outras áreas. As respostas não foram concretas, ninguém parecia encontrar as áreas onde brancos demonstram seu talento e habilidade. E mais uma vez, uma incoerência, segundo Craig. Ninguém pode negar áreas onde não-brancos superam, mas quando são as áreas onde os brancos superam outras raças, brancos são condenados por racismo.

Os entrevistados também foram questionados por que estudantes brancos têm melhores notas que estudantes negros em testes padronizados. As respostas foram basicamente as mesmas: direcionamento cultural (uma forma de trapaça branca). Os testes são feitos para os brancos. Um entrevistado ainda disse que a melhor coisa que você pode fazer na escola é ser branco; é a melhor maneira de passar de ano. Contudo, para a estupefação dos entrevistas, Craig revela que os asiáticos obtêm as melhores notas nesses testes. Assim, se os brancos realmente manipulassem esses testes, por que logo os asiáticos se dariam melhor?

Craig Bodeker também concluiu que, segundo o senso comum, ser defensor de um grupo racial é importante, desde que este grupo não inclua caucasianos. Cada grupo racial ou étnico hoje tem seus defensores, com exceção dos brancos. Ele ainda diz que outra característica do senso comum sobre o racismo é que quando brancos tratam mal não-brancos, é sempre racismo; por outro lado, quando brancos são as vítimas, a situação é totalmente contrária. Neste caso, os agressores tendem a ser desculpados, e as vítimas quase se passam por culpados.

“Você já foi racista?” Quando questionados sobre isto, a maior parte dos entrevistados disse não. Porém, sabe-se que os americanos crescem em uma cultura racista. Assim, todos possuem um pouco de racismo, e é preciso ter consciência disto. Só então será possível e respeitar o próximo, pois ninguém é superior a outro.

Por fim, Bodeker explica o porquê de suas indagações. “As únicas posições disponíveis para brancos nesse assunto do racismo são a indiferença ou a supremacia. Todas as incoerências são manifestações do fato de que a todas as raças é permitida a defesa, exceto à raça branca.”

O cineasta fala sobre um importante momento da sua vida, o dia em que foi doutrinado sobre o racismo. Ele estava na quinta série [6º ano] do Ensino Fundamental e seus professores, Sr. Lee e Sr. Dragland, fizeram um jogo com a classe. Se chamava “jogo de associação à palavra”; o professor escreveria algo no quadro e os alunos deveriam dizer o que a palavra os lembrava. A primeira palavra era "BRANCO". E as respostas eram limpo, puro, honesto, justo e brilhante. A próxima palavra escrita no quadro foi "PRETO". E a classe respondeu com palavras como assustador, escuro, maligno, mau, vazio e sujo. Foi neste momento que os estudantes tiveram a surpresa. O professor Lee disse: “VOCÊS SÃO TODOS RACISTAS!”. A partir daquele dia, Craig resolveu mudar. Ele não queria ser um racista.

Durante as entrevistas, Bodeker consegue minar seu próprio argumento, proporcionando muitas evidências de que o racismo - a crença de que uma raça é superior à outra - realmente existe.

Em seu inovador documentário A conversation about race, o cineasta Craig Bodeker desafia, basicamente, a sabedoria convencional sobre os temas de raça e "racismo". Todo o documentário parte do princípio de que o racismo não é mais algo que afeta os negros ou outras minorias; atualmente é uma noção usada para coagir os brancos. Afinal, a definição original do racismo é um conceito baseado no pressuposto de que uma raça é melhor, superior, ou intrinsecamente vale mais do que outra.

Enfim, sabemos que o racismo vai muito além de um termo usado para atacar os brancos. O racismo atinge tanto os negros quanto os brancos, ou qualquer outra raça. Não é fácil encarar o preconceito racial. Contudo, se quisermos realmente viver num mundo no qual a igualdade vai além do discurso, e onde todos – a despeito de cor, gênero, credo religioso, sexualidade e classe – tenhamos os mesmos direitos e benefícios, então é hora de mudarmos o nosso foco e aprendermos a olhar além das diferenças. O respeito ao próximo deve vir acima de tudo.


Racismo. Esta é certamente uma conversa que não só a América, mas todo o mundo, precisa ter.


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Clara Alvarenga Calazans, a autora deste relatório, é aluna do 3º ano do Ensino Médio do Colégio Adventista de Vitória. Registro os meus agradecimentos e reconhecimento.

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