domingo, 17 de janeiro de 2016
Uma polêmica está acesa sobre as possíveis mudanças na Base Nacional Comum Curricular. O ensino de História, de modo especial, sairá enfraquecido. Isso porque o Ministério da Educação poderá simplesmente eliminar do currículo do Ensino Médio os conteúdos de História Antiga e Medieval, Renascimento, revoluções inglesas do século XVII, Revolução Industrial, Revolução Francesa e os acontecimentos do século XIX, dentre outros.
Por outro lado, uma ênfase desmedida é dada às histórias ameríndias, africanas e afro-brasileiras. Sem menosprezar o papel dos povos indígenas e africanos na formação da nossa nacionalidade, procurarei aqui destacar o legado da Europa à civilização ocidental.
A Europa não constitui a civilização mais antiga do nosso planeta. A Mesopotâmia, o Egito, a China e a Índia foram civilizados antes dela. Menos extensa que a Ásia, a África e a América, por séculos a Europa sequer foi o continente mais populoso. Por volta de 1750, metade da humanidade vivia na Ásia.
Contudo, foi na Grécia onde surgiram os conceitos de "política" e "democracia", fundamentais ao mundo contemporâneo. Os gregos também legaram à Europa o desejo, a paixão de saber, uma forma de inteligência científica, a curiosidade aplicada ao conhecimento do mundo, bem como o prazer pela aventura e pela mudança.
A civilização grega e, sobretudo, a helenística, influenciaram significativamente a civilização romana. os romanos, por sua vez, elaboraram uma síntese dessas culturas, transmitindo-a ao Ocidente. A contribuição latina mais original deu-se no âmbito do Direito, a base do nosso sistema legal. Além disso, diversos idiomas, incluindo o português, derivam do latim.
Todo o conhecimento da Antiguidade greco-romana foi cuidadosamente preservado na Idade Média, pelos monges copistas. A civilização cristã, na Baixa Idade Média, ainda criou as universidades, instituições que até hoje se destacam pela produção e difusão do conhecimento.
A partir das universidades, das Academias e dos livros, as grandes correntes de ideias europeias difundiram-se pelo planeta. De igual modo, também foi na Europa onde surgiu a revolução técnica, a transformação econômica, a experiência política. O que se passou na Europa repercutiu no mundo inteiro. O inverso não ocorreu, pelo menos até o século XIX.
Talvez seja no campo da técnica que a herança europeia mais se destaque. O pensamento científico desvendou segredos, reconstruiu os sistemas da natureza e deduziu de suas leis científicas as aplicações práticas. Disso resultou uma série de invenções, bem como o domínio das forças da energia, que foi aplicado ao armamento, à navegação, às vias de comunicação.
O Islã, culturalmente tão distinto do Ocidente, não hesitou em absorver a notável experiência científica da civilização judaico-cristã. O mundo frequentou a escola da Europa, ainda que nem sempre espontaneamente.
E o que dizer da longevidade dos impérios ocidentais? Resultou da superioridade na arte de governar dos europeus. Os impérios coloniais da Espanha e de Portugal, por exemplo, resistiram por três séculos, mais pela engenhosidade e superioridade de organização do que pela superioridade militar.
A própria consciência histórica é uma criação europeia. Até mesmo a possibilidade de se narrar a História desde o ponto de vista de outros sujeitos ou outras culturas é uma criação europeia. De fato, a única cultura que se empenhou em compreender as outras sem projetar sobre elas os seus próprios valores foi a europeia. Essa deveria ser a primeira lição do currículo de História do MEC.
Enfim, reconhecer a superioridade da herança cultural da Europa em relação aos outros continentes não implica nenhum julgamento de valor - trata-se de um fato, evidente demais para ser negado por uma reforma curricular leviana.
1 comentários:
Prof Rafael Essa prova esta dificil?
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