“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

Os 30 Anos da Derrubada do Muro de Berlim

sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Amanhã completar-se-ão 30 anos da queda do maior símbolo da "cortina de ferro" que se abatera sobre a Europa logo após a Segunda Guerra Mundial, o Muro de Berlim. A Guerra Fria chegava ao fim, e anunciava-se uma Nova Ordem Mundial. 

Em certo período, o marxismo - a ideologia dos países socialistas - assemelhou-se a uma fé austera mas persistente que guiaria as populações através do deserto, por meio de árduos esforços e sacrifícios que só seriam recompensados bem mais tarde. Também se assemelhava a um modelo alternativo que oferecia mais justiça em troca de menos liberdade. 

O marxismo atraía (e atrai) a todos os que detestavam a crueldade, a desigualdade e a desumanidade da nova ordem (a capitalista). Essa doutrina tinha um apelo muito especial nas regiões mais atrasadas do mundo, incluindo partes da Europa. Ainda assim, foram os tanques soviéticos, e não revoluções, que espalharam regimes comunistas pelo Leste Europeu, incluindo o da Alemanha Oriental, na sequência à derrota dos nazistas, em 1945. 

A falência do "Socialismo Real" foi melancólica. A razão principal de tal fracasso foi que, afinal, simplesmente não pôde competir técnica e economicamente com o Ocidente liberal. Assim, perdeu as corridas armamentista e consumista. Diante da inquestionável derrota no grande desafio que foi a Guerra Fria, Gorbachev, da União Soviética, e demais líderes socialistas, decidiram-se pela abertura. Porém, logo descobriram que, quisessem ou não (alguns queriam, outros não tinham certeza), não havia como deter ou limitar o processo sem usar métodos mais drásticos do que os que estavam dispostos a usar. 

Nesse sentido, em 1989, crescia a reivindicação de maior autonomia, ou mesmo independência, nas repúblicas bálticas da União Soviética, na Moldávia e até na Ucrânia. Em setembro, formou-se na Polônia o primeiro governo da Europa oriental desde 1954 que não era controlado pelos comunistas. No início de outubro, o Partido Operário Socialista Húngaro aprovou a sua própria dissolução. 

Enquanto isso, toda a Alemanha Oriental era sacudida por intensas manifestações de rua. A polícia acabou por desistir de dispersá-las: as multidões eram enormes e a vontade de dispersar demasiado fraca. No dia 6 de novembro, caiu o governo da Alemanha Oriental. Três dias depois, o comitê central do Partido Comunista do país anunciou que o Muro de Berlim seria desmantelado e que a fronteira entre a República Federal da Alemanha e a República Democrática Alemã seria aberta na manhã seguinte. Isso precipitou as multidões em direção ao famigerado muro, que então veio abaixo. 

Entre 1989 e 1991, quando o Socialismo Real foi varrido do Leste Europeu e da própria União Soviética, praticamente ninguém teve suficiente zelo ou lealdade para lutar pela ordem e pela própria fé. Com uma impressionante e terrível velocidade, a velha nomenklatura se transformou em capitalistas chauvinistas ou oportunistas. Nunca um navio naufragante foi abandonado com mais regozijo e unanimidade, nunca uma experiência foi condenada mais conclusivamente. Quando a liberalização chegou, e a adesão de fachada à fé deixou de ser obrigatória, houve um surpreendente e quase universal abandono da ideologia e uma desdenhosa indiferença em relação a ela.

Publicado hoje no Jornal A Tribuna.

Conheça o "hino" da derrubada do Muro de Berlim, Wind of Change, da banda Scorpions.

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