sexta-feira, 3 de maio de 2024
Ninguém gosta de admitir que esteve errado, mas poucos são aqueles que se comprometeram tão completamente com um conjunto de crenças, como é o caso do intelectual ungido, e que têm tão poucos incentivos para reconsiderar as questões adotadas. Por exemplo, a brutalidade com que o intelectual ungido ataca seus adversários e a virulência com que eles se prendem às suas crenças, em desafio à crescente evidência contras as "causas de base" da criminalidade e outras teorias sociais, são claras evidências sobre esse grande investimento pessoal em um conjunto de opiniões sociais e políticas.
Os intelectuais não têm o monopólio do dogmatismo e do ego ou do poder em racionalizar. Mas as restrições institucionais que se colocam diante das pessoas nos campos dos negócios, da ciência, dos esportes, dentre muitas outras áreas, confrontam-nas com altos e geralmente ruinosos custos em se persistir em ideias que não funcionam na prática.
De forma semelhante, a história de crenças predominantes entre cientistas que se viram obrigados a abandoná-las diante de evidências contrárias tem um papel central em toda a história da ciência. No mundo dos esportes, seja profissional ou colegial, nenhuma teoria ou crença pode sobreviver a derrotas incessantes e nem sobreviverá a elas qualquer diretor de clube ou treinador.
Tais restrições inescapáveis não fazem parte do repertório das pessoas cujos produtos são ideias que encontram apenas a validação de seus pares ideológicos. Isso vale especialmente para os intelectuais acadêmicos, os quais controlam suas próprias instituições e selecionam, seus colegas e seus sucessores. Nenhum professor que goza de estabilidade profissional pode ser demitido porque votou na implantação de políticas para o campus universitário, que se verificaram econômica ou educacionalmente desastrosas para sua faculdade ou para toda a universidade, ou defendeu políticas que se tornaram catastróficas para a sociedade como um todo.
Essa falta de prestação de contas para com o mundo real não é fruto do acaso, mas compreende um princípio profundamente enraizado cujo santuário recebe o nome de "liberdade acadêmica". Da falta de prestação de contas para o comportamento irresponsável é preciso apenas um pequeno passo. Outros membros da intelligentsia, incluindo tanto a mídia de noticiário quanto a mídia do entretenimento, da mesma forma também dispõem de uma ampla latitude em relação à validação do que dizem, tendo como sua principal restrição a capacidade de atrair público e audiência, seja com verdades ou falsificações, seja produzindo efeitos construtivos ou destrutivos sobre a sociedade como um todo.
SOWELL, Thomas. Os Intelectuais e a Sociedade. Tradução de Maurício G. Righi. São Paulo: É Realizações, 2011, p. 487-488.
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