domingo, 19 de maio de 2024
Desenho do aprisionamento do Papa Pio VI, em Roma.
Infelizmente, os novos cultos [cívicos, da Revolução] não podiam ser separados da descristianização e da guilhotina, que servia, por assim dizer, para eliminar argumentos inconvenientes de forma perfeitamente racionalista. Em 7 de outubro de 1793, celebrou-se uma cerimônia em Rheims em que um ferreiro local esmagou o frasco miraculoso de óleo sagrado utilizado na coroação. Muitos dos descristianizadores eram renegados, como nos primeiros movimentos milenaristas - Fouché fora oratoriano, Laplanche, beneditino, e Charles, cônego em Chartres. Alguns eram comunistas, como outro ex-oratoriano, Joseph Lebon: "se, quando a Revolução chegar ao fim, ainda houver pobres entre nós, nossos esforços revolucionários terão sido em vão." Ele declarou, em seu julgamento, que derivava todas as suas máximas revolucionárias dos evangelhos, "que, do princípio ao fim, pregam contra os ricos e sacerdotes." Algumas igrejas foram depredadas. Em Paris, as fileiras dos descristianizadores eram compostas pelos muito pobres; nas províncias, estes geralmente eram a linha de frente. Arrasaram tumbas aristocráticas e demoliram o mausoléu funerário em St. Denis. (Descobriram o coração encolhido e preservado de Luís XIV, que acabou sendo comido por engano.) Cerca de vinte a quarenta mil sacerdotes que não juraram foram exilados; algo entre dois e cinco mil foram executados. A Igreja "constitucional" foi arruinada quando cerca de vinte mil padres juradores - a maioria sob pressão - concordaram em ser descristianizados; quarenta e dois bispos abdicaram de sua posição, conquanto somente vinte e três tenham incorrido em apostasia de fato. Alguns padres casaram-se para salvar suas vidas, outros fizeram-no voluntariamente; porém, havia casamentos clericais, celebrados por bispos, antes do início do processo de descristianização. (Mais tarde, quando a Igreja retomou o celibato, sob Napoleão, milhares solicitaram a absolvição.) A separação formal entre a Igreja e o Estado foi decretada em 1795, o país tornou-se uma República em 1798 e o Papa Pio VI foi declarado prisioneiro francês, morrendo em Valência em agosto de 1799; a municipalidade registrou o falecimento de "Jean-Ange Braschi, exercendo a profissão de pontífice".
JOHNSON, Paul. História do Cristianismo. Tradução de Cristiana de Assis Serra. Rio de Janeiro: Imago, 2001, p. 437.
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