“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

A Origem do Sistema das Indulgências

domingo, 9 de julho de 2017

Ilustração do dominicano e pregador alemão Johann Tetzel (ca. 1465-1519) vendendo indulgências dentro de uma igreja. 
Créditos: Kean Collection/Getty Images.  

"Dum modo geral, [em fins do século XV] a religião tornara-se mais mecânica e materialista do que fora antes. Havia, em relação à missa, uma atitude que podemos chamar de 'pôr dinheiro na caixa das esmolas'. Anedotas e testamentos revelam-nos com suficiente clareza que muitos leigos acreditavam que, para tornar mais eficazes as suas orações eucarísticas, bastava multiplicá-las. Multiplicar velas ou orações seria outra forma de aumentar as probabilidades de salvação da alma. Assim, um leigo tinha direito a entrar para uma sociedade de Colônia, mediante o pagamento duma quota anual de 11.000 Pai-Nossos e Ave-Marias. A popularidade das indulgências era outra indicação ainda da atitude das pessoas para com a religião. O sistema das indulgências tinha tido a sua origem no tempo das Cruzadas, como um meio de as pessoas compensarem a sua incapacidade de tomar parte numa cruzada e não deixarem, por isso, de ganhar o prometido perdão dos pecados, mediante um pagamento em dinheiro à Igreja. O fundamento teológico desse sistema era, conforme se mostrou na bula papal Unigenitus, de 1343, a crença de que o mérito representado pelo sacrifício de Cristo excedeu aquilo que seria necessário para a redenção de toda a raça humana; por consequência, esse mérito remanescente constituía um tesouro colocado nas mãos da Igreja. (...) Foi-se dando cada vez menos importância à penitência implicada na indulgência e mais importância ao perdão automático que o pagamento do dinheiro garantia." 

GREEN, V. H. H. Renascimento e Reforma - a Europa entre 1450 e 1660. Tradução de Cardigos dos Reis. Lisboa: Dom Quixote, 1991, p. 128. 

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