“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

O Assassinato de Marat

quinta-feira, 13 de julho de 2017

Charlotte Corday depois de assassinar Marat (1860). Paul-Jacques-Aimé Baudry (1828-1886). 
Local: Museu de Artes de Nantes.

Na véspera do quarto aniversário da Revolução Francesa - isto é, dia 13 de julho de 1793 - uma desconhecida de 25 anos de idade viajou de Caen (o centro da resistência girondina nas províncias) a Paris. Seu nome era Charlotte Corday, e num ato ela deixaria sua própria marca indelével na Revolução. 

No contexto do Terror, alguns líderes girondinos (como Pétion e Louvet), originários de Caen, conseguiram fugir de Paris antes de serem presos e reuniram-se novamente em Caen. Ali publicavam um jornal girondino, desafiando frontalmente o Comitê de Segurança Pública. O jornal era uma convocação à rebelião; ele aviltava os jacobinos e denunciava Marat como o menos defensável, mais odioso e culpado de todos. Ora, Charlotte Corday era leitora desse jornal em sua cidade natal, e assumiu uma missão particular. Ela viajou a Paris de carruagem, comprou uma longa adaga no Palais Royal e visitou Marat na mesma noite na rue des Cordeliers. 

Marat estava sempre em casa. Segundo os seus próprios registros, ele dedicava seis horas por dia para ouvir as queixas de "uma multidão de desafortunados e oprimidos" que o consideravam como seu "defensor". Seu trabalho extenuante deixou-lhe debilitado; assim, ele buscava algum alívio para sua debilitante doença de pele em um banho medicinal. No banho mesmo ele escrevia suas petições, memorandos e respondia a cartas, além de editar seu jornal. Como seus dias eram cheios, ele não tinha opção. Foi em um momento assim que Corday o encontrou. Ela deu-lhe os nomes dos girondinos em Caen, e o dono de L'Ami du Peuple (o jornal de Marat) agradeceu e os anotou. Ele estava fazendo uma listagem quando Corday enfiou a adaga diretamente em seu coração. Não foi difícil assassiná-lo: pequeno, frágil, doente, nu e indefeso como estava.

Charlotte Corday foi guilhotinada quatro dias após seu crime. Marat, um dissidente em seu território enquanto viveu, tornou-se um herói dos jacobinos após sua morte. Por sua vez, os girondinos adotaram sua própria santa secular com a execução de Corday.     

Adaptado de SCURR, Ruth. Pureza fatal - Robespierre e a Revolução Francesa. Tradução de Marcelo Schild. Rio de Janeiro / São Paulo: Record, 2009, p. 295-296.

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